Estreado a 18 de dezembro de 1942 no Cinema Éden, em Lisboa, Aniki-Bobó foi a primeira longa-metragem de ficção de Manoel de Oliveira (1908-2015). Com uma má receção da crítica, que vaiou o filme por considerá-lo subversivo no Portugal salazarista dos “pobres mas honrados”, e também uma rejeição por parte do público (que não compareceu às salas), este filme inspirado num conto do escritor João Rodrigues de Freitas (adepto de ideias próximas do socialismo reformista) só muito mais tarde obteve o reconhecimento que merecia. Aliás, Manoel de Oliveira, talvez acusando essa rejeição, só voltaria às longas de ficção três décadas depois com O Passado e o Presente (considerando que Ato da Primavera, de 1963, é essencialmente um documentário).
Influenciado por Zero em Comportamento (1933), de Jean Vigo, Aniki-Bobó é uma obra pioneira do neorrealismo português na sua combinação entre uma temática com consciência e sensibilidade sociais e uma estética que mescla um certo realismo “poético” com o lirismo documental. Tendo como protagonistas muitos atores amadores, esta história sobre crianças pobres que brincam e perdem alguma inocência nas ruas e nas zonas ribeirinhas da cidade do Porto é hoje apontada como um “clássico” popular até mesmo entre muitos daqueles que sempre foram avessos aos filmes do realizador.
Filmado no verão de 1940, para beneficiar das férias escolares, Aniki-Bobó foi rodado nas zonas ribeirinhas do Porto, em Gaia e também em Lisboa, no estúdio da Tóbis Portuguesa (onde foram feitas todas as cenas de interiores). E, por ironias dos destinos cinéfilos, o filme acabaria também, 20 anos após a sua estreia, por ser muito aplaudido em Cannes nos Encontros Internacionais do Filme para a Juventude.
Para comemorar os 80 anos do filme, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, na Fundação de Serralves, tem em exibição no foyer do auditório uma exposição documental.