Ontem, os semáforos endoidaram, lançando o caos no trânsito de Braga. A tal ponto que agentes da polícia municipal tiveram de enfrentar a chuva e de desenhar, nos cruzamentos mais problemáticos, mesmo sem peanha e sem a arte de uma dança de regras apertadas, os gestos rituais dos antigos sinaleiros. O jornal O Minho regista a acção meritória trazendo-me a lembrança de grandes geómetras do vento nos cruzamentos das cidades que conheci. Havia um no largo da Mutamba, em Luanda, a quem chamavam “bailarino”. Usava óculos escuros e todo o tráfego parecia nascer nos seus gestos muito teatrais e impositivos. Há uns três anos, o presidente da República fez-se fotografar ao lado do agente Paixão, no último dia de serviço daquele que era conhecido como “o sinaleiro mais famoso de Lisboa”. E eis como um apito suave e melancólico dá passagem à evocação dos ofícios perdidos neste dia em que o Expresso revisita velhos e novos modos de ganhar a vida, verificando a Classificação Portuguesa de Profissões cuja mais recente actualização estabelece 14 novas ocupações. A repórter Carlota Velez apresenta-nos uma das novas profissões: colector de moedas. Os colectores de moedas são funcionários da Parque Tejo, andam aos pares e recolhem diariamente as moedas depositadas nos parquímetros de Oeiras. Uma das novas 14 profissionais reconhecidas é chefe de aldeia. Tem o seu quê.
Num tempo em que antigas profissões são varridas dos registos e da memória acolho com alegria poética estes lampejos de humanidade no dicionário dos ofícios. Na página electrónica de um município catalão encontrei há tempos a promoção de uma actividade descrita como “Rota Cultural dos Ofícios Perdidos do Bosque”. Logo me lembrei dos resineiros que recolhiam num pinhal da minha infância o que eu julgava serem lágrimas de árvore.