O caso está em tribunal e vem hoje contado pela jornalista Salomé Filipe, no JN. Um tenente-coronel da Base de Maceda, Ovar, já admitiu que, com inusitada frequência, havia refeições de leitão na messe. Foram varas varadas mensalmente na messe. Só de uma vez, conta o jornal, foram encomendados 162 quilos de leitão. Afigura-se folgado o porquinho mealheiro. Prático, Heitor e Cícero não escapariam ao apetite voraz alimentado pelo tenente-coronel e por seis outros arguidos, nem que tivessem asas.
A notícia não configura um qualquer “triunfo dos porcos”, ainda que, em Maceda, alguns fossem mais iguais do que os outros: sabe-se que os chefes da messe chegaram a ser prendados com leitões em cabazes de Natal, pão de ló e caixas com garrafas de espumantes. Mais conta a reportagem do JN que, durante os primeiros meses da covid, “a filha, o neto e o genro do comandante viveram em permanência numa área vip da base aérea”. O tribunal dirá de sua justiça.
Ao que vem, nesse caso, a crónica? Vem paisanamente realçar a pouca sensibilidade da messe de Maceda para a rica gastronomia ovarina. A notícia não faz salivar senão os apreciadores de leitão. Foram, o tenente-coronel e os seus apaniguados, desatentos às ricas ementas espalhadas em romances como “As Pupilas do Senhor Reitor” por Júlio Dinis, filho de um médico de Ovar e que em Ovar se recolheu por razões de saúde, em casa de uma tia que lhe deu inspiração para a figura da Morgadinha dos Canaviais.
Na verdade, não há, nesta notícia sobre o regular espavento almoçarista da messe de Maceda, qualquer referência a enguias fritas em molho de escabeche, a vitela no forno com arroz açafroado, a iscas de bacalhau, a arroz de sardinhas, a papas de cabaça menina. Salva-se o pão de ló, não se sabe se em formas forradas com papel almaço, se de pito húmido, como é de regra.
Não sejamos, dadas as circunstâncias, demasiado rigorosos. O contexto não pede um chefe de messe vestido de gabão varino.