Sob o vidro da entrada da Casa dos Marcos, na Moita, há gravatas e lenços selados que contam histórias de um tempo mais próspero. Aqui, vivem pessoas raras. Carlos, picado pela mosca tsé-tsé na África do Sul, encontrou em João a família que perdeu. Julião sonha com uma loja no Colombo. Miguel, na sua cadeira de rodas, espera rever Cristiano Ronaldo. Entre paredes que pedem tinta nova e corredores onde ecoam memórias, há uma equipa que resiste.
Desde o escândalo de 2017, os mecenas partiram da Associação Raríssimas. Mas ficaram as dívidas, as necessidades, os sonhos. Uma direção de pais voluntários luta, desde há um ano, para manter de pé o único centro em Portugal para doenças raras. Fernando, aos 82 anos, preside. Claudino gere contas impossíveis. Sem ganharem um tostão. Esta é a história de uma casa onde raramente se deixou de sonhar. De onde ninguém pode ou quer partir, mesmo quando já quase ninguém vem visitar.
“Raríssimas formas de vida” é um A1 Doc da autoria da jornalista Rita Colaço sobre formas raras de resistir, de cuidar, de viver.