Dia 25 de Outubro, 50 anos após o lançamento do EP "Calorios da Canção", é apresentada a reedição em formato especial destes 4 temas inéditos em CD.
Numa compilação com direcção artística de Luís Pinheiro de Almeida, para além do EP Caloiros da Canção, foram seleccionados 25 temas para celebrar o meio século do “Caloiros da Canção”.
Caloiros da Canção – 50 anos – Yé yé
CD 1
01 – Fui Louco por ti Daniel Bacelar
02 – Nunca Daniel Bacelar
03 – Oh!Carol Os Conchas
04 – Quero o Teu Amor Os Conchas
CD 2
01 – Marcianita Daniel Bacelar
02 – Somos Jovens Os Conchas
03 – Um Pequeno Nada Conjunto Mistério com Fernando Concha
04 – Twist Para Dois Zeca do Rock
05 – Coimbra Menina e Moça Conjunto Mistério
06 – Hully Gully do Montanhês Conjunto Académico João Paulo
07 – canção do Mar Morgans
08 – Guitarras de Fogo Seguirei o Sol
09 – Missing You Sheiks
10 – Meadowlands Duo Ouro Negro
11 – Quero que voltes Demónios Negros
12 – Beijos Teus Tártaros
13 – O Comboio Álamos
14 – Toada Beirã Blusões Negros
15 – Wish I May Rocks
16 – Back from the shore Conjunto universitário HI FI
17 – Espero Espaciais
18 – Winchester Cathedral Quinteto Académico
19 – Dieu est à Nos cotes Catherine Ribeiro
20 – Partindo-se Quarteto 1111
21 – Estrada do Nada Grupo 5
22 – Foi o Mar Fliers
23 – Lovy Dovy Kind of Lovy Zoo
24 – Penina/Carlos Mendes
25 – Poema Verde do Espanto Edmundo Falé
"Sexta-feira, 28 de Outubro de 1960, dia calmo no País e no Estrangeiro. Na véspera, Ben E King tinha gravado “Stand By Me”. Nos tops andava “Twist”, de Chubby Cheker, “Apache”, dos Shadows, “O Sole Mio”, de Domenico Modugno, ou “Muxima”, do Duo Ouro Negro.
Discretamente, a Valentim de Carvalho coloca no mercado o EP Columbia SLEM 2062 no formato que os brasileiros apelidam de sanduíche, ou seja, envolto em plástico.
Intitulado “Caloiros da Canção 1”, o disco apresenta no Lado A duas canções originais de Daniel Bacelar, “Fui Louco Por Ti” e “Nunca”, e no lado B duas versões em português dos Conchas, “Oh! Carol”, de Neil Sedaka, e “Quero O Teu Amor” (“Should We Tell Him”), dos Everly Brothers.
É o primeiro disco do rock português que aqui se reproduz pela primeira vez em CD, respeitando a capa original.
A edição teve uma referência no “Diário Popular” de 26 de Novembro de 1960, um mês depois: CALOIROS DA CANÇÃO Nº 1 proporciona-nos (e com prazer o afirmamos) a oportunidade, que desejaríamos ter mais frequentemente, de elogiar sem reservas gravações de artistas portugueses. O duo “Os Cocnchas”, a que antevemos largo êxito, interpreta “Oh! Carol” e “Quero O Teu Amor” e Daniel Bacelar, apesar dos seus 17 anos, demonstra seguras qualidades na canções “Fui Louco Por Ti” e “Nunca”. É tão bom intérprete como autor. Excelente acompanhamento de Jorge Macgado e o seu conjunto. Caloiros da Canção foi um concurso inventado por Pozal Domingues, da Valentim de Carvalho, no programa “Clube das 10”, de Carlos Moutinho e Alberto Rodrigues, na Rádio Renascença, para incentivar a música moderna portuguesa. Os Conchas, então considerados os Everly Brothers portugueses, venceram na classe de conjuntos, enquanto Daniel Bacelar, o Ricky Nelson português, nem sequer chegou a concorrer, tendo sido imediatamente caçado pela dupla João Martins/Moreno Pinto a cantarolar “Lonesome Town” nos corredores, preenchendo assim o alinhamento do EP como revelação.
Era o tempo do rock and roll, de Bill Haley e de Elvis Presley, dos filmes “Sementes de Violência” (“Blackboard Jungle”, 1955) e “O Ritmo do Século” (“Rock Around The Clock”, 1956), que influenciaram jovens como Zeca do Rock (pretendo criar um estilo de rock português), Victor Gomes e os Gatos Negros, Joaquim Costa, Nelo do Twist, Armindo Rock… Antes, ainda em finais dos anos 50, um jovem José Cid, 16 anos, ensaiava em Coimbra com António Portela, António Igrejas Bastos e Rui Nazaré, o que seria o primeiro formato de um grupo português de rock, os Babies, de que, infelizmente, não existem gravações.
Aquecidos os motores, o primeiro grande arranque do rock português ocorre em Setembro de 1963 com a estreia do filme “Mocidade Em Férias” (“Summer Holiday”), com Cliff Richard e os Shadows, e o concurso então efectuado no cinema Roma, em Lisboa, para promoção da película, significativamente intitulado Concurso de Conjuntos do Tipo “The Shadows”.
É a primeira grande invasão das guitarras eléctricas em território nacional como o Conjunto Mistério (ex-Mascarilhas), vencedores do Concurso, Electrónicos, Titãs, Vendavais, Gentlemen, Panteras do Diabo, Telstars.
Depois da euforia Shadows que em Portugal teve a particularidade de ver trasvestido em guitarras eléctricas o cancioneiro popular português, como “Coimbra Menina e Moça”, “Oh Rosa Arredonda A Saia”, “Alecrim” ou “Vira da Nazaré”, chegou a vez da beatlemania.
Mas Portugal vivia já uma guerra colonial castradora da bondade de uma juventude ávida dos bons ventos anglo-saxónicos, impedindo a progressão das carreiras. Mal os jovens músicos davam boa conta dos acordes e a guitarra eléctrica era substituída pela G3. A censura estimulava a imaginação, mas era vingativa.
Nestes anos de 1965 e 1966, este primeiro grande boom do rock português é disparado pelo Concurso Yé-Yé realizado no Teatro Monumental, em Lisboa.
Disputado entre 28 de Agosto de 1965 e 30 de Abril de 1966, o Concurso foi ironicamente promovido pelo Movimento Nacional Feminino em homenagem aos soldados, alguns músicos, em serviço obrigatório nos diversos teatros de operações nas colónias de além-mar.
E nas gigantes cortinas do Monumental afixava.se uma ordem de serviço:
Atenção: barulho que não permita o júri ouvir os conjuntos, objectos atirados para o palco, distúrbios na sala são motivos para a expulsão do espectador que assim proceder sem que a organização lhe devolva a importância do bilhete. A Juventude pode ser alegre sem ser irreverente.
Guitarras de Fogo, Ekos, Jets, Sheiks, Claves (os grandes vencedores), Álamos, Chinchilas, Demónios Negros, Tártaros, Tubarões, Espaciais, Bábulas, Rocks (Angola) e Night Stars (Moçambique), entre dezenas de outros conjuntos, foram alguns dos protagonistas deste novo batalhão.
Gouveia Machado, com a sua loja de instrumentos musicais na rua de São José, em Lisboa, ainda hoje existente, foi um autêntico Pai Natal do rock português, permitindo que os músicos sem cheta adquirissem as suas indispensáveis ferramentas de trabalho em prestações a perder de vista e de assinatura…
Pelas contas da loja, Gouveia Machado calculou em cerca de 300 o número de conjuntos então existentes.
Com uma televisão praticamente inexistente e uma indústria discográfica pouco aventureira, o yé-yé vivia sobretudo da rádio e do incontornável programa da Rádio Renascença, “23ª Hora”, de João Martins, e desse delírio juvenil que eram os bailes de finalistas organizados em todo o País pelos Liceus e os bailes de Verão, oportunidades únicas para as paixões.
Com o findar da década de 60 e a frustrada primavera marcelista, o rock português assume novos rumos e novas ideias, de novo com José Cid, agora ao leme do Quarteto 1111, mas isso são já contas de outro rosário."
a splendid time is guaranteed for all
Luís Pinheiro de Almeida
Outubro de 2010