No dia 9 de março, como a Antena 1 assinalou em directo do local, a Sociedade Portuguesa de Autores entregou o Prémio Pedro Osório 2015 a Janita Salomé, pelo seu disco “Em nome da rosa”.
A este propósito, Armando Carvalhêda falou com o cantautor sobre a sua música, a sua vida e o seu futuro próximo.
Uma entrevista para escutar sábado às 22:20 na antena 1.
Janita Salomé :"Em Nome da Rosa" – DISCO ANTENA 1!
"Pode parecer uam descrição banal se chamarmos a este disco a mais recente viagem de Janita. Mas não encontro outra forma de melhor o definir. Porque é novo como uma viagem recente. Mas é
também coerente com um percurso já longo e marcado por fortes traços próprios. Uma viagem não apaga as boas viagens anteriores.
Identidade e movimento são também sinais que habitualmente associamos à diáspora judia, em que se filiam os Salomés, sefarditas de Belmonte, a vila da Beira Baixa que abrigou tantos judeus da intolerância religiosa
decretada por D. Manuel I.
Belmonte, onde nasceu Pedro Álvares Cabral, foi também uma das povoações portuguesas que mais gente deu aos Descobrimentos. E de novo esse sentido da descoberta vem a propósito quando falamos do Janita Salomé.
É impossível esquecer a verdadeira descoberta musical e poética do álbum A Cantar Ao Sol, que o Janita publicou há mais de trinta anos.
E não se espantem se nesse disco era duma filiação no Al-Andalus que se tratava. Foi em Córdova, cidade dos mouros, que habitou o mais brilhante pensamento judeu da Idade Média, muito antes de outros interesses e loucuras de vária ordem levarem dois povos descendentes do mesmo profeta Abraão a considerarem-se os maiores inimigos do Mundo.
A geografia deste disco – dos discos que o Janita publicou – é aberta e tolerante. E tem muito mais a marca dos caminhos do que a de separar galegos e mouros, portugueses do norte e do sul: o cantor, que noutros registos mostrou a sua paixão pelo Fado de Coimbra, apanha nesta nova estrada um tema tradicional transmontano – e ele não apenas faz aqui todo o sentido, num disco que toma a rosa como tema central; é mesmo um dos trechos mais calorosos.
Sei do cantar antigo, canta a certa altura Janita. Um antigo que vive por ser vivido. A verdade deste álbum não é a duma recolha que limitam a acompanhar a voz e o lirismo muito original do cantor; funcionam todos como um grupo.
Mas este judaísmo é uma filiação real ou romanceada? Não teria mal qualquer das hipóteses. Acham que é a segunda quando ouvimos um tango? Mas sabiam do papel dos judeus na história do tango?
Identidade e busca. Se não se tratar mesmo da busca como forma superior de identidade.
Como dizia um outro ibérico de boa memória, o caminho faz-se a andar."
David Ferreira