As primeiras memórias da Rádio vêm dos tempos em que os aparelhos de receção eram objetos de arte e ouvir Rádio era um momento quase ritual de escuta.
As vozes que vinham de dentro da caixa diziam coisas importantes, cantavam músicas de apaixonar e cabiam todas lá dentro com orquestras e tudo.
Os Rádios precisavam de aprendizagem para sabermos navegar pelos mil cantos do mundo. Era preciso aprender nas suas escalas como sintonizar ondas médias, ondas curtas e longas.
Nestas primeiras aventuras de ouvinte tudo era novidade e surpresa. E, quase sem dar por isso, a brincadeira foi começando. Imitar anúncios, e qualquer texto servia, das revistas do lar aos folhetos dos pesticidas, apresentar artistas, criar noticiários que só duravam os breves instantes em que eram lidos em voz alta para uma audiência de amigos e familiares.
A ida universitária para Coimbra levou-o para várias atividades académicas e para o encontro inevitável com o Centro Experimental de Rádio da Associação Académica de Coimbra que funcionava em circuito interno para as cantinas obrigando os ouvintes-comensais a ouvirem-nos, quer quisessem quer não!
Mas no CER já se fazia Rádio a sério. A seriedade, intensidade e ousadia que a futura Rádio Universidade de Coimbra haveria de herdar e aprofundar.
Fez parte, com imenso orgulho, da sua direção, sobretudo daquela que travou uma luta muito difícil para a sua legalização.
A RUC foi a sua grande escola, a escola onde teve também o prazer de fazer crescer o ‘bichinho’ da Rádio em muitos candidatos a radialistas e a desafiá-los a serem livres criadores e comunicadores.
Essa aprendizagem na RUC acompanha-o até hoje. Esteve sempre comigo na passagem pela RDP Centro, onde solidificou métodos de trabalho e aprendeu o que é, para si, o verdadeiro conceito de Rádio Pública: uma Rádio feita para os ouvintes e construída com eles a partir do seu território geográfico e social.
A RDP Centro abriu-lhe as portas da irmã maior, a Antena 1, ofereceu-lhe mais auditório (do tamanho do mundo) e trouxe-lhe até aqui, aos dias de hoje.
O fascínio da Rádio continua vivo, porque há coisas novas a serem inventadas todos os dias: na ciência, na música, na literatura, nas festas e romarias, etc.
Porque os inventores são gente e é para gente que Rádio deve ser feita. Não para o umbigo de quem a faz.
Não é possível fazer Rádio sem paixão. Quando essa paixão morrer, o radialista que desligue o microfone.
E que viva a Rádio, onde uma palavra vale mais do que mil imagens!