A Terra Média sempre foi veloz, mas nos últimos meses o ritmo tornou-se quase impossível de acompanhar. O debate sobre o futuro dos conteúdos ganha força, entre crises nos formatos tradicionais — como as sitcoms — e a explosão dos micro-dramas. Enquanto isso, a guerra de Trump contra os media reabre discussões sobre censura e liberdade de expressão. No meio desta transformação acelerada, trazemos sinais, histórias e recomendações para guiar a jornada por este território em constante mutação.
Conteúdos para uma Nova Era
Vivemos uma era marcada pelo scrolling infinito, pela diminuição do attention span e pelo multi-screen. Os conteúdos competem por segundos de atenção e precisam de se reinventar para sobreviver num ecossistema saturado. Entre crises e novas oportunidades, o panorama mediático mundial está em transformação acelerada.
Uma das tendências mais claras é a remediação: conteúdos concebidos para meios tradicionais, mas que ganham nova vida quando fragmentados e partilhados nas redes sociais. O fenómeno garante notoriedade e engajamento, mas raramente se traduz em audiências consistentes. O colapso do formato clássico de talk shows é exemplo disso.
Nas indústrias mais pequenas, como a portuguesa, notoriedade e engajamento acabam por ser fins em si mesmos — basta recordar fenómenos como Ruído ou, nos primórdios do YouTube, Gato Fedorento.
Contudo, para os grandes players, a relação com as redes sociais tornou-se ambígua: são vitais para a promoção, mas incapazes de garantir sustentabilidade.
A Crise das Sitcoms
As sitcoms televisivas, outrora pilares das grelhas, vivem um declínio criativo e de audiências, é o que nos diz este artigo da Statsignificant. Ao contrário das comédias de sketch — facilmente recortáveis e partilháveis —, as sitcoms encontram pouco espaço nas redes sociais. Uma das raras exceções recentes é The Paper (NBC), spinoff de The Office, que procura revitalizar o género.
Oportunidades: O Microdrama
Se a sitcom perde fôlego, o microdrama surge como formato em ascensão. Nascido na China, já com expressão na Índia, este modelo de ficção curta — com duração, orçamento e histórias pensados para consumo mobile — começa a despontar como fenómeno global.
Descrito como a “linguagem narrativa de uma geração móvel: rápida, emocional e imersiva”, o microdrama já movimenta milhares de milhões e atrai a atenção de Hollywood. Após o fracasso da Quibi e experiências tímidas no YouTube, surge agora o estúdio MiroCo, dedicado a explorar o formato com a fórmula certa.
O género aproxima-se frequentemente da novela e das séries adolescentes, mas também começa a ensaiar ação, suspense e até comédia.
Trump vs. Media
Num outro campo, o confronto entre Donald Trump e os media continua a remodelar o entretenimento político. Em menos de um ano, o ex-presidente norte-americano soma vitórias contra grandes nomes do late night: primeiro Stephen Colbert, depois Jimmy Kimmel — e já ameaça Jimmy Fallon e Seth Meyers.
Agora, Trump prepara-se para uma batalha ainda maior: um processo contra o New York Times, elevando o embate com a imprensa a outro patamar.
Paradoxalmente, enquanto enfrenta a imprensa, Trump anunciou ter fechado um acordo com a China para manter o TikTok a funcionar nos EUA, revelando a complexidade das alianças mediáticas no seu campo político.
Bolsonaro Condenado
No Brasil, Jair Bolsonaro enfrenta um cenário inédito: foi condenado pela justiça, mas o veredito não parece pôr fim ao seu movimento político. O caso teve forte repercussão nas redes sociais, com comentários viralizados de figuras como Lula (“Se Trump vivesse no Brasil, seria julgado pelo que fez no Capitólio”) e influenciadores como Laura Schultz, que acompanharam o julgamento em direto no TikTok.
Já há, no entanto, herdeiros prestes a tomar o “trono” de Bolsonaro, como aponta um artigo do The Guardian.
@lauschultz quando o Bolsonaro será efetivamente preso?
Neste episódio, a Kenia recomenda o ensaio “A morte das Celebrity Interviews“, da YouTuber Mina Le.
O Francisco Merino recomneda “If Everyone Builds It, Everyone Dies”, de Eliezer Yudkowsky e Nate Soares (2015), um ensaio polémico contra a Inteligência Artificial, a série “Foundation” (Apple TV), que já tem 4.ª confirmada.
O Álvaro Costa recomenda “Slow Horses” (Apple TV), cuja 5.ª temporada estreou a 24 de setembro e “The Toxic Avenger” (2025), com Peter Dinklage e Kevin Bacon.
E, ainda, “Memorabilia” de David Bowie em exibição no London Museum, novo lar do arquivo do “camaleão do rock”.