Dino D’ Santiago esteve na Antena 1 para cantar duas canções do seu novo disco Mundu Nôbu e para conversar com José Carlos Trindade.
Mundu Nôbu
"En ben di Lonji, ma en ka stranjeru nau/ En bá stranjeru, ma en Ka stranjeru nau!”
“Venho de Longe, mas não sou estrangeiro/ Fui para o Estrangeiro, mas não sou Estrangeiro”
É com este mantra, cantado em forma de oração na faixa que abre e dá título a “Mundu Nôbu” que Dino d’Santiago nos convida a entrar em sua casa. Um lugar novo mas que nos é familiar, onde as suas raízes vindas de Cabo Verde se unem à música electrónica de apelo global que caracterizam hoje a crioulofonia pulsante sentida nas novas linguagens rítmicas nascidas do triângulo Lisboa – Praia – Luanda.
O Funaná, o Batuku, a Morna, a Kizomba, o Afro-House e uma panóplia de movimentos rítmicos ainda não catalogados depurados pelo produtor Seiji são a base sonora onde a voz deste crooner Badio se instala, exteriorizando tanto emoções de celebração da vida, como se recolhendo intimamente em momentos mais virados para o interior, cantando as histórias do arquipélago da Morabeza, o mar que os leva para longe e o mar que os faz regressar ao colo das mulheres que lhes deram vida. As filhas de uma mesma mãe, esta “Africa di Nôs”.
Ao lado de Seiji e Kalaf Epalanga, que assina a produção executiva do álbum, aparecem também a dupla de produtores Branko & PEDRO da Enchufada, figuras incontornáveis da música de dança global na cidade que é invocada no hino “Nova Lisboa”. O nova-iorquino Rusty Santos, que inspirado pelos ventos da Ilha de Santiago, assina a co-produção em “Nôs Funaná”, revelando-nos as possibilidades infinitas do funaná lento, num contraste delicioso com o familiar e energético estilo musical caracterizado pelo repicar do ferrinho e gaita a velocidades vertiginosas apresentado em “Fidjo de Poilon”. A envolvência libidinosa da Kizomba, que transcende e desafia a lógica do espaço e da intimidade a que cada indivíduo se permite a experienciar em público surge com “Nôs Crença”, criado em parceria com Loony Jonhson um dos produtores mais promissores que o Cabo-Zouk deu ao mundo.
Já vimos Dino d’Santiago navegar por tantos géneros musicais ao longo da sua carreira que há muito que deixou de fazer sentido enumerá-los. Todo o seu passado revelou-se fundamental para a criação de “Mundu Nôbu”, um álbum consciente das estruturas fundadoras da música cabo-verdiana ao mesmo tempo que expõe o futuro que poderemos vislumbrar com o aproximar da tradição à música electrónica de apelo global.
Este é um álbum transnacional, com ventos da Praia, Luanda, Nova Iorque, Berlim e Londres a soprarem na direcção de Lisboa, a cidade casa que tem o crioulo como a sua segunda língua oficial e com a qual este cantautor, com sua voz melodiosa, suportada por um som de vanguarda, nos devolve toda a poesia do quotidiano, onde os sentimentos de sensualidade e de alegria se confundem com os de melancolia.
“Mundu Nôbu” é o álbum onde cabe toda a vida de Dino."