Foi em finais de 1932 que o mundo escutou, pela primeira vez, a canção Night and Day. Assinada por Cole Porter, ganhou voz pela primeira vez a 7 de novembro desse ano em Boston quando o musical Gay Divorce, com canções de Cole Porter e texto de Kenneth Webb e Samuel Hoffenstein, baseado numa adaptação de um original de um livro de Dwight Taylor, começou a sua rodagem nos chamados “tryouts”, espetáculos noutras cidades que precediam uma eventual estreia em Nova Iorque, na Broadway. Com Fred Astaire como protagonista, naquele que seria o seu último papel na Broadway, Gay Divorce chegou ao palco do Ethel Barrymore Theatre a 29 de novembro, passando depois para o Schubert Theatre, vivendo uma carreira de 248 espetáculos nessa sua produção original, seguindo depois para o West End, em Londres.
Poucos dias antes da estreia Fred Astaire tinha passado pelo Gramercy Recording Studio, em Manhattan onde, acompanhado pela orquestra de Leo Reisman, registou uma primeira gravação de Night and Day. O disco (de 78 rotações) seria editado a 13 de janeiro de 1933, apresentando na outra face uma gravação, captada no mesmo dia, deu I’ve Got You on My Mind, outra das canções de Cole Porter estreadas em Gay Divorce. O êxito, que vinha já do palco, seria amplificado pelo disco, que se tornaria o mais vendido nos EUA em 1933, somando um total de 22.811 unidades, tendo ocupado o primeiro lugar da tabela da Billboard durante dez das 18 semanas nas quais surgiu classificado na lista.
O tremendo sucesso da canção (e do musical) gerou uma adaptação ao cinema, em 1934, mas com uma ligeira alteração no título: The Gay Divorcee (que chegaria aos ecrãs portugueses em 1936 com o título A Alegre Divorciada. No filme apenas Night and Day restava do alinhamento original das canções apresentadas no teatro. Contudo, Fred Astaire retomava o seu papel, representando o filme o segundo de uma série de clássicos nos quais fez dupla com Ginger Roberts.
O sucesso do filme deu ainda maior visibilidade à canção que, então começava já a conhecer novas versões tendo, até hoje, sido recriada em disco mais de 800 vezes. Aos longo dos anos deram voz a esta canção nomes das mais variadas geografias e géneros musicais. Entre os muitos que cantaram ou recriaram instrumentalmente Night and Day estão vozes “clássicas” como Bing Crosby, Doris Day, Sammy Davis Jr. ou Frank Sinatra, figuras do jazz como Billie Holliday, Ella Fitzgerald, Stan Getz, Charlie Parker ou Diana Krall, referências da soul como Tempations ou Dionne Warwick, brasileiros como Sérgio Mendes ou Bebel Gilberto e figuras do universo pop/rock como Ringo Starr (no seu álbum de estreia a solo), Rod Stewart, os Everything But The Girl, o norueguês Sondre Lerche ou os U2. Estes últimos recriaram a canção para o tributo a Cole Porter Red Hot + Blue, representando essa versão uma das mais válidas experiências na etapa de transição que os levaria a Achtung Baby. A canção pode ser também um ponto de encontro entre gerações, como o mostraram recentemente Lady Gaga e Tony Bennett.
Texto de Nuno Galopim