Aldina Duarte faz um disco improvável, no ano em que celebra 25 de carreira. Este novo trabalho não tem nenhuma letra escrita por ou para si e não inclui nenhuma melodia do Fado Tradicional, matéria poética e musical exclusiva em todos os seus discos anteriores. A capa do CD é uma fotografia sua com 21 anos, idade em que se encantou pela arte que se tornou na segunda grande revolução da sua vida.
A produção musical, que passa pelo conceito, arranjos e sonoridade, são da sua inteira responsabilidade. Aldina Duarte assume a reconstrução e desconstrução de doze fados originais feitos para alguns dos fadistas mais importantes da história do fado, aos quais chama versões, fazendo referência ao nome dos seus criadores na contracapa, neste disco com o título: “Roubados”.
Parte dos temas deste álbum são considerados clássicos, também, por serem desde sempre, os fados mais cantados nas casas de fados e gravados por todas as gerações. Os restantes ficaram perdidos na obra de alguns grandes fadistas e são quase desconhecidos, dentro e fora do mundo do fado. Contudo, são aqueles que Aldina Duarte, mesmo sem nunca os ter cantado, mais ouviu “ao vivo” (e em disco), inclusive na voz dos seus criadores, como é o caso de “Veio a Saudade” de Beatriz da Conceição, “Arraial” de João Ferreira-Rosa ou “Porta Maldita” de Maria da Fé.
Desta vez, a fadista concebe um disco feito com doze das músicas que considera das mais belas, de sempre e para sempre, na história do fado e da música portuguesa. A beleza e a força das melodias é tal que, em alguns temas, a letra é reduzida para segundo plano, quer pela interpretação dos fadistas, quer pelos arranjos orquestrais.
Aldina Duarte cria as suas novas versões, sabendo que estes originais são insuperáveis; arrisca e ousa todas as alterações de modo a trazê-los para a singular autenticidade fadista, numa busca de verdade que é uma constante nas suas interpretações, recorrendo ao jogo rítmico na divisão dos versos, que sempre a fascinou, usando e abusando até do contratempo (o chamado “roubado” na gíria musical dos fadistas), relevando a música das palavras no seu sentido e na sua poesia, afirmando a sua visão destas histórias cantadas. Enquanto intérprete, conta também com a cumplicidade de uma das duplas mais talentosas e singulares nesta arte, Paulo Parreira, guitarra portuguesa, e Rogério Ferreira, viola, que são brilhantes na execução e na sensibilidade interpretativa comovente ao seguirem a voz de Aldina Duarte com uma cumplicidade absoluta. Há uma sonoridade que pertence exclusivamente a este trio, que é inconfundível.
António Zambujo é o convidado especial deste disco, o cantor que criou à viola a versão do clássico “Foi Deus” que Aldina mais gosta; com quem trabalhou muitos anos no Sr. Vinho, para quem escreve desde o primeiro disco. Juntos fazem um dueto improvável e espantoso, improvisando no fado “Rosa Enjeitada”.
Alfredo Cunha, como a própria Aldina diz “um dos melhores do mundo, que ainda por cima é o fotógrafo do meu 25 abril”, é responsável pela fotorreportagem deste disco; uma incursão ao trabalho de estúdio durante o preciso momento da criação destas versões.