Influenciado pela paternidade, por várias mudanças no seu quotidiano e vida familiar, e por um contexto de pandemia que se revelou demasiado intenso, DINO D’SANTIAGO rodeou-se dos seus companheiros de viagem habituais, de uma equipa de estúdio, músicos, produtores, família, e durante quatro semanas refugiou-se nos arredores de Lisboa, onde viveu, respirou, maturou e executou ideias, sons, pensamentos, música.
Rodeado por uma paisagem bucólica, o compositor quarteirense e equipa, como guerreiros empurrados dos até ao limite da resistência humana, pois na música a inspiração é amiga da madrugada, serviram-se dela para mapear o batuque, despir a Kizomba de tudo o que é supérfluo, colheram harmonias onde só a morna consegue, e fizeram deste ‘Badiu’, com que nos brindam, uma ode à sua nova condição de pai do pequeno Lucas e um brilhante complemento do antecessor ‘Kriola’.
“O conjunto de canções que compõem este álbum foram inspiradas na jornada do povo Badiu do interior da ilha de Santiago até às metrópoles da América e Europa, até à minha Quarteira umbilical”, explica Dino d’Santiago. “A música é o grande passaporte da cultura cabo-verdiana no mundo. Presente em todos os momentos marcantes da história do país, é através dela que as memórias ancestrais são catalogadas e transportadas para o futuro. Estou mais otimista do que nunca com o futuro, disposto a dar voz à poesia, mas também à vida, tal como ela é, bela e trágica.”
DINO D’SANTIAGO volta a cantar aqui as histórias de Cabo Verde e da sua vasta diáspora, sobe as montanhas da Assomada no interior de Santiago, a ilha que recebeu o maior número de pessoas escravizadas trazidas dos territórios onde se situam hoje o Senegal e a Gâmbia. O que valeu a Santiago o título: a mais africana das ilhas de Cabo Verde. O lugar onde a população negra, aproveitando o caos provocado pelos ataques piratas à cidade de Ribeira Grande, fugia do cativeiro para as montanhas do interior. E a estes grupos de escravizados foragidos chamaram-se, ‘Badius’ (vadios). Um termo historicamente depreciativo, mas que a partir do século XX foi sendo reapropriado e promovido a símbolo de resistência nacional e orgulho.
Este ‘Badiu’ que agora apresenta, é fruto de trabalho comunitário, com muitas fronteiras, mas sem limites. Uma obra embalada pelo Batuku, catártico, cru e negro, que permitiu que gerações novas de cabo-verdianos se reconciliassem e aprendessem a reivindicar a sua herança africana. É a partir deste género basilar, feminino e badiu, que DINO D’SANTIAGO constrói diálogos com o mundo da eletrónica, zouk ou hip-hop. Dando voz às histórias, angústias e alegrias da nação crioula que tem o Atlântico como uma extensão do seu território e a música como o único refúgio para a alegria. Como tem vindo a acontecer desde ‘Mundu Nôbu’, o autor de ‘Nova Lisboa’ volta a assinar a produção executiva ao lado de Kalaf Epalanga e Seiji. Para além dos produtores com quem tem vindo a colaborar frequentemente, Nosa Apollo, Toty Sa’Med ou Branko, a viagem sónica e afro-futurista deste ‘Badiu’ conta também contribuições preciosas de vários nomes, tanto a nível da produção, como da composição ou interpretação.