De 18 a 21 de junho decorreu em Madrid a 4ªEdição do Festival de Fado da cidade.
Ana Sofia Carvalheda esteve lá, e fez o resumo do que viu e ouviu durante os 3 dias na capital espanhola.
Este evento, que tem ganho espaço no país vizinho durante os últimos anos, já vai na 4ªa edição, e no que toca aos discos à 4ª foi mesmo de vez pois para assinalar a data acaba de ser editado um CD que reúne fadistas que já passaram ou vão passar pelos Teatros del Canal.
Um disco Antena 1, que reúne artistas como Ana Moura, Camané, Carminho e Kátia Guerreiro, e fados como Um Homem na Cidade ou Meu Amigo está Longe, que vamos ouvir ao longo da semana.
Alinhamento:
01 – Mariza – Primavera
02 – Carlos do Carmo – Um Homem na Cidade
03 – Ana Moura – Desfado
04 – Camané – Saudades Trago Comigo
05 – Gisela – João Meu amigo Está Longe
06 -Carminho – Lágrimas do Céu
07 -Katia Guerreiro – Fado dos Olhos
08 -Ricardo Ribeiro – Moreninha da Travessa
09 -Aldina Duarte – Contos de Fados
10 -Carolina – Um Fado Nasce
11 -Rodrigo Costa Felix – Paixões Secretas
12 -Cuca Roseta – Nos teus braços
13 -Miguel Capucho – Vielas de Alfama
14 -Mísia – Lágrima
O Festival do Fado realiza-se desde 2011 em Madrid e é um evento que não tem paralelo em Portugal.
Por um lado, quando ele se iniciou não havia festivais com esta música dignos de nota.
Por outro, ainda hoje Madrid é a única cidade da Península Ibérica onde se pode, ao longo de três dias seguidos, não apenas assistir a bons espectáculos dos fadistas mais conceituados mas igualmente ver diariamente filmes que têm o fado como elemento central, ouvir conferências e workshops que nos ensinam os enquadramentos e os segredos e ainda, nos intervalos desta preenchida agenda, apreciar a gastronomia portuguesa e percorrer uma exposição (todos os anos diferente) preparada pelo Museu do Fado.
O evento deve-se à iniciativa e teimosia de Frederico Carmo que, depois de realizar os primeiros festivais de Flamenco entre nós, achou que chegara a hora de mostrar o Fado em Espanha, colocando com o mesmo destaque a actualidade e a História do género. Durante três anos seguidos, apresentou o projecto sem conseguir reunir os apoios necessários. Nunca desistiu. Associou-se então, para viabilizar o seu sonho, à Everything Is New. E o 1º Festival do Fado, já com esta nova parceria, haveria de preceder alguns meses a consagração do género pela UNESCO.
Aspecto importante do evento, o conjunto de conferências e workshops que todos os anos se realiza permite ao espectador o confronto com uma grande diversidade de temas e ângulos de observação.
Contando a História do Fado, Rui Vieira Nery não se contentou em apresentar a matéria com a clareza e erudição que toda a gente lhe reconhece; sentou-se ao piano e explicou como a música evoluiu nas primeiras décadas da sua existência. Mário Pacheco falou da guitarra portuguesa abordando temas tão desconhecidos dos leigos como as cordas do instrumento e as unhas postiças do executante; e, logo a seguir, partilhou divertidos episódios só conhecidos de quem sabe.
O tema da poesia do Fado mereceu os pontos de vista muito distintos do grande biógrafo de Amália, Vítor Pavão dos Santos, dum intérprete especialmente atento às peripécias e aos desafios da palavra cantada, Ricardo Ribeiro, e dum dos poetas eruditos mais cantados pelos fadistas neste século, Vasco Graça Moura.
Os ciclos de Cinema do Festival vêm oferecendo, ano após ano, uma mostra nunca realizada pela Cinemateca Portuguesa, apesar da oportuna exposição e do excelente catálogo que o Museu do Fado produziu: desde o primeiro fonofilme português, A Severa, até aos mais recentes documentários biográficos, passando por filmes que nunca mais foram exibidos nem têm sido objecto de publicação em DVD.
Mas claro que nada melhor do que os grandes intérpretes assegura a introdução e a consagração do Fado. Conforme se pode ver na lista dos artistas que têm marcado presença no Festival em Madrid, a escolha leva todos os anos a Espanha nomes de primeira grandeza, desde o grande renovador dos anos setenta, Carlos do Carmo, até à jovem Gisela João, a revelação em 2013, passando por artistas que têm levado o Fado ao mundo inteiro, como Mísia, Camané, Mariza, Ana Moura, Katia Guerreiro e Carminho.
A par de consagrados como Aldina Duarte e Ricardo Ribeiro, no Festival estiveram também artistas mais novos, em espectáculos diferentes como a recriação duma casa de fados que reuniu Rodrigo Costa Félix e Carolina, ainda esta não tinha publicado o seu primeiro disco.
Muito diferentes entre si, os fadistas actuando no Festival de Madrid entre 2011 e 2014 – e apresentados neste disco – mostram a diversidade e a vitalidade da música que escolheram e que, não longe de completar dois séculos de História, permanece nova, emocionante, surpreendente.