De 5 a 14 de Setembro, a ONGD Helpo realiza uma campanha de angariação de fundos em 418 lojas Pingo Doce, em todo o país.
Um dos principais objetivos da iniciativa é financiar a resposta à emergência no apoio aos deslocados internos em Moçambique, nomeadamente as crianças, que têm de enfrentar um novo ano lectivo em condições dramaticamente adversas. Com a crise humanitária que atinge Cabo Delgado, são cerca de 4 mil novas crianças em idade escolar a que o apoio da Helpo terá de chegar.
O contributo dos portugueses concretiza-se na aquisição de vales que permitem comprar lanches, mochilas e manuais escolares para estas crianças. Nas comunidades mais pobres do norte de Moçambique, região em que a Helpo trabalha desde 2008, um simples lanche, distribuído na escola, pode ser o incentivo necessário para levar uma criança às aulas diariamente. Aqui, é comum não existir um único manual escolar, nem sequer para o professor. Nestas comunidades, onde muitas crianças têm de fazer vários quilómetros a pé para chegar à escola, uma mochila pode fazer toda a diferença.
Desde Fevereiro, a Helpo tem apoiado com kits alimentares, roupa e material escolar várias aldeias e instituições sociais em Cabo Delgado que estão a receber deslocados internos, e tem no terreno, desde Julho, nas comunidades de Cabo Delgado e Nampula onde intervém há mais de 10 anos, uma acção de emergência junto destas populações que fogem dos ataques armados, que se materializa em no apoio a crianças, grávidas e lactantes com rastreios e acompanhamento nutricional e kits de sobrevivência, compostos por bens alimentares, utensílios de cozinha, material de higiene e roupa.
Deslocados Internos: uma crise humanitária
Após 10 anos de trabalho na província de Cabo Delgado, em Moçambique, a Helpo vê-se a braços com uma crise humanitária que tem vindo a espraiar-se pelos distritos desta província e, mais recentemente, de Nampula, atingindo mais de 250.000 pessoas. Destas, 16.102 deslocaram-se para as comunidades de Silva Macua, Mahera, Impire, Ngoma, Mièze (Cabo Delgado) e Namialo (Nampula), onde a Helpo começou a intervir em 2009.
Vale a pena referir que este é um contexto já de si, e em muitos aspetos, emergencial, não apenas devido a problemas enraizados intimamente relacionados com a pobreza multidimensional (elevados níveis de desnutrição crónica, fome, absentismo escolar, casamento prematuro e maternidade precoce, analfabetismo, etc.), mas agravado pelo ciclone Kenneth, que devastou o norte da província, em Abril de 2019, e cuja recuperação total ainda não havia sido conseguida, com a consequente destruição de estruturas escolares, habitações e campos de cultivo utilizados na agricultura de subsistência.
A este enquadramento sombrio vieram somar-se a crise sanitária da Covid19, e a crise dos deslocados internos, resultado do conflito armado que tem vindo a ferir irremediavelmente o norte do país, com consequências trágicas para já mais de centenas de milhar de pessoas. O fecho de escolas, interrupção de atividades regulares de postos de saúde e suspensão de projetos em curso, deixou uma população já desprotegida praticamente sem interlocutores a quem recorrer.
Plano de Intervenção Helpo no apoio aos Deslocados Internos
Esta campanha é um complemento ao plano de emergência que a Helpo tem marcha desde Julho, e que se repercutirá na Fase 2 de implementação.
Fase 1 – Ajuda humanitária/alívio do sofrimento
- Caracterização das famílias através de cadastro interno com vista à proteção das pessoas e defesa dos direitos das crianças;
- Rastreios nutricionais a toda a população de grávidas e crianças até aos 2 anos de idade, entre a população deslocada;
- Encaminhamento médico da população em risco para a reabilitação nutricional nos postos de saúde e de acordo com o protocolo vigente no país, e devido acompanhamento;
- Entrega de kit alimentar de sobrevivência para agregado familiar de 5 pessoas para um mês (50 kg de cereal, 5 kg de feijão, 5l de óleo, 2 kg de açúcar, 1 kg de sal, 2 barras de sabão, 2 máscaras comunitárias);
- Entrega de bens essenciais por agregado familiar (roupa, mantas e loiças).
Fase 2 – Familiarização/Integração das famílias deslocadas nas estruturas formais existentes na comunidade envolvente
- Apoio personalizado à emissão de documentos;
- Articulação com as entidades competentes para a inscrição das crianças em idade escolar, na escola;
- Criação e execução de sistema de acompanhamento e incentivos para a permanência das raparigas menores de idade na escola (de forma a evitar a violência de género, violência de idade, venda, casamento prematuro, etc);
- Formação e apoio nutricional através da escola.
Sobre a Helpo:
A Associação Helpo é uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) que desempenha a sua atividade desde 2008 em Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, chegando, atualmente, a cerca de 57.000 crianças. A sua atividade centra-se na promoção do desenvolvimento através da educação e da nutrição.
A Helpo atua em 101 focos de intervenção, através da construção de escolas, bibliotecas, creches, centros de nutrição, cantinas escolares, sistemas de aproveitamento de águas pluviais, formação comunitária, educação para a saúde, assistência e formação contínua. A ONGD financia estas atividades através de diversos programas, nomeadamente, Programa de Apadrinhamento de Crianças à Distância, donativos livres, projetos financiados por agências internacionais e empresas. Saber mais sobre a Helpo: http://www.helpo.pt/