Lloyd Cole conta 62 anos de vida e 40 desses anos foram passados com um microfone à frente e uma guitarra a tiracolo. É uma vida inteira de devoção à música, de entrega à arte de criar canções e de as interpretar sem truques ou cedências de qualquer espécie. Lloyd Cole pertence, claramente, a uma classe em vias de extinção. O que não significa que não esteja em topo de forma.
Depois de já nos ter visitado em inúmeras formações, tendo até chegado a trocar as guitarras pelos sintetizadores modulares que também o apaixonam em apresentações eletrónicas bem exploratórias, o músico de Derbyshire em Inglaterra, há muito radicado nos Estados Unidos regressa agora para nos reapresentar essa vida de canções – clássicos como “Brand New Friend” ou “Lost Weekend”, mas também criações mais recentes como “Violins” – com um microfone à frente e uma guitarra acústica a tiracolo. É reduzir à sua mais funda essência uma arte que teve tração pop nos anos 80 e, como os melhores vinhos, soube envelhecer com a passagem das décadas.
Nesse tempo, Cole ergueu uma significativa discografia com 12 álbuns a solo, o mais recente dos quais, On Pain, lançado há poucos meses, a somarem-se aos que fez à frente dos Rattlesnakes no arranque da carreira. Discos que estão repletos de canções inteligentes e mordazes sobre as grandes questões da vida: o amor e o desamor, a angústia e o passar do tempo, a dor e a saudade, a redenção e os sonhos. Canções tocadas por um refinado sentido de humor e uma inigualável veia poética que o seu público não se cansa de aplaudir e com que Lloyd Cole, mesmo todo este tempo depois, não se cansa de nos arrebatar.