Outro País, o documentário de Sérgio Tréfaut é filme antena 1.
Fique atento às emissões da antena 1 e ganhe convites duplos para as sessões nos dias 20, 21, 22 às 20h30 no cinema Ideal em Lisboa.
Em 25 de Abril de 74 um golpe militar derrubou a mais antiga ditadura ocidental sem derramar uma gota de sangue. A descoberta da democracia e o desmantelar do último império colonial europeu projectaram Portugal para o primeiro plano da actualidade internacional.
Durante a revolução dos cravos alguns dos maiores fotógrafos e documentaristas do mundo desembarcaram em Lisboa para recolher imagens: Glauber Rocha, Robert Kramer, Thomas Harlan, Pea Holmquist, Santiago Alvarez, Sebastião Salgado, Guy Le Querrec, Dominique Issermann, Jean Gaumy, etc. Quase todos sonhavam com um mundo diferente.
Vinham de Maio de 68, do Vietname, do Chile de Allende e viviam a Revolução Portuguesa como um laboratório único de experiências.
O que descobriram em Portugal? Que balanço fizeram anos mais tarde?
A pesquisa para este documentário revelou milhares de fotografias e cerca de 40 filmes estrangeiros sobre a Revolução Portuguesa.
Em 1999, quando se rodou Outro País, quase nada deste material tinha cópia em Portugal.
Testemunhos
Era uma época maravilhosa. Sobretudo para nós, brasileiros, que viviamos sob uma ditadura. Quando a gente chegou a Lisboa havia uma volta massiva de portugueses para Portugal. Todos os que tinham fugido do exército, os políticos que estavam refugiados, amigos voltando do mundo inteiro. Para mim, aquilo era a materialização de um sonho. As pessoas estavam livres, querendo viver, querendo saber de tudo que existia no mundo. Sentia-se uma liberdade imensa, na cabeça das pessoas e na linguagem. Creio que uma situação dessas, uma situação de felicidade nacional, foi a única vez que eu vivi.
SEBASTIÃO SALGADO
Não era só uma classe de intelectuais revolucionários ou um grupo de radicais ou de profissionais liberais. Não era um movimento racial como nos Estados Unidos.
Era uma verdadeira crise política nacional, com uma classe trabalhadora que ainda tinha uma verdadeira consciência de classe. Eu vivi essa experiência como um laboratório, como se eu fosse um investigador de sapa a descobrir uma situação de pré-revolução.
ROBERT KRAMER
Nós começámos a filmar quando as pessoas estavam a ocupar as terras, quando os proprietários estavam a deixar o Alentejo. Aquilo era o que eu tinha lido sobre a Guerra Civil de Espanha nos anos 30, o que os anarquistas tinham feito em Espanha. E de repente despertei politicamente: “O que está a acontecer aqui?
Sonhei com isto a minha vida inteira e isto está a acontecer em Portugal.”
PEA HOLMQUIST
Em Portugal, viveu-se uma situação que nunca tinha acontecido em parte nenhuma.
Houve comissões de trabalhadores nos bancos, nos jornais, a ocupação do jornal “República”, da rádio. Era tudo novo. O objectivo do nosso filme era criar em França comités de apoio à revolução portuguesa. Organizar grandes comícios para contar o que se passava em Portugal e divulgar a luta dos portugueses, ou seja, servir de exemplo.
MICHEL LEQUENNE e DANIEL EDINGER
Para mim era a vitória de um povo que tinha conseguido sair do fascismo e que parecia estar decidido, ou que estava mesmo decidido a assumir o destino do seu país. E acho que não há para mim palavra mais bela do que a palavra Povo.
GUY LE QUERREC
Nenhum dos meus amigos com quem fui para Portugal tinha a intenção de fazer um filme. A intenção era observar dentro do exército português um fenómeno que nos tinha deixado encantados. Segundo a nossa formulação da altura, o exexército colonial português cometia um suicídio. Ou seja, um exército era capaz de se auto-destruir. E foi essa razão que nos levou a Portugal com a vontade de filmar, dentro dos quartéis, a maneira como os soldados e até mesmo os oficiais estavam a destruir o aparelho militar.
THOMAS HARLAN
Quando chego a Portugal descubro que um amigo meu, um tipo da agência Nouvelles Frontières, organizava viagens de carácter cultural para pessoas que queriam assistir a uma revolução em directo. Vendiam-te a possibilidade de seres um Malraux e de assistires a uma revolução em directo.
JEAN GAUMY
Eu era muito idealista em relação ao mundo e ao trabalho da imprensa. Achava que era preciso ter bom coração, procurar a verdade no mundo, trazê-la aos outros e mostrar o que se passava. O papel da imprensa, para mim, era denunciar as injustiças. Havia um lado justiceiro da parte dos grandes repórteres. Mas em Portugal, deparei-me com um sistema de imprensa que me ajudou a perceber também outros mecanismos da imprensa, por exemplo, exagerar o acontecimento para o tornar sensacionalista. Havia uma histeria da imprensa internacional em relação a Portugal.
DOMINIQUE ISSERMANN