O Radiodays Europe é a maior reunião anual da indústria áudio, que integra rádio e podcast. A edição de 2023 acontece em Praga de 26 a 28 de Março para nova reflexão do “estado da nação” áudio em plena era digital e discutir as tendências atuais e as perspetivas futuras.
Os temas chave deste ano incluirão conferências, debates e apresentações relacionadas com inteligência artificial, novas audiências e formatos, a informação e reportagem em tempo de guerra, a criação de conteúdo, criatividade, pesquisa de dados, os podcasts como conteúdo e negócio, audiolivros e seu lugar no mundo do áudio, as redes sociais e a dinâmica que as novas gerações estão a imprimir à indústria.
O evento decorre na República Checa. Há precisamente 100 anos na época, Checoslováquia, a rádio pública fazia as suas primeiras transmissões, meses depois da BBC ter também começado.
A Czech Radio em maio de 1923 tornou-se a segunda emissora de rádio mais antiga da Europa e a primeira em território continental.
Este é um tempo onde as plataformas de streaming se esforçam para se aproximar dos modelos tipo que ligam a rádio aos seus ouvintes desde sempre. Ao mesmo tempo as rádios tentam definir os melhores modelos para interagir com plataformas de streaming de modo a amplificar os seus conteúdos a mais plataformas. É momento para refletir a perceber como os principais canais estão a posicionar-se nessa dança com os novos players digitais, com uma visão 360 para novos públicos e novas oportunidades.
A Guerra e o desafio das Notícias
A rádio de palavra, com palavras e onde as notícias tem vivido uma luta tremenda. Nos últimos anos, primeiro com a pandemia e no último ano por conta da guerra na Ucrânia, acelerou a importância de aumentar o envolvimento com as notícias e procurar soluções para ganhar eficácia na mensagem. O público sentiu cansaço das notícias de modo exacerbado pela pandemia de Covid-19.O que a indústria da rádio pode fazer e como explorar algumas soluções e ideias no jornalismo para inspirar o público e criar impacto no mundo real ao relatar respostas a problemas sociais, é uma das ideias em debate na conferência. O conceito de storytelling adaptado à informação tem resultado positivo. O formato de reportagem tem demonstrado globalmente maiores níveis de envolvimento do público, uma atitude positiva em relação às notícias e uma confiança renovada no meio.
A guerra na Ucrânia mudou a vida de muitos em apenas dias. Esta é a primeira guerra acompanhada em tempo real com os meios, tecnologia e plataformas do século XXI. O termo ‘névoa de guerra’ é frequentemente usado, significando que a verdade deve ser estabelecida continuamente com experiência e as ferramentas certas. O duelo entre contraditórios, fontes confiáveis, notícias falsas, propaganda, é um espaço de informação minado onde jornalistas e neste caso rádios, devem conseguir movimentar-se constantemente entre a realidade, interpretação e julgamento.
Experiências deste ano serão partilhadas. Com jornalistas que viveram na frente de guerra entre bunkers e reportagem em cidades sob ataque.
Impacto nas Novas Audiências
Atrair novos públicos de novas maneiras para as rádios, entre podcasts, streams e demais produtos de áudio. O objetivo é reter audiências, a batalha não é de hoje, mas o aumento de concorrência e as mudanças de consumo de informação e entretenimento, obrigam a melhorar os modelos estratégicos, introduzir cada vez mais a Big Data sobre os públicos para melhor os servir. Um caso evidente, por exemplo, é a forma como os jovens consomem informação. Eles consomem muitas notícias, mas estão menos preocupados com quem as produziu e com a fonte de onde vieram. Para muitos segmentos (o mais jovem, mas de modo generalizado em outros alvos), as redes sociais desempenham um papel essencial na atualização diária das notícias. Um dos tópicos será focado nas notícias e feed que os mais novos estão interessados e como é necessário aprender para envolver o público mais jovem nos conteúdos de notícias. Um dos exemplos que será apresentado é o da NRK que a par de outras organizações, já deu esse passo, envolvendo o público mais jovem com os editores para criar a NRK Young News.
A música é parte significativa do poder da rádio. Mas de há anos a esta parte a rádio enfrenta um lote infinito de opções alternativas para os seus ouvintes, daí ser necessário melhorar sempre a sua eficácia na programação musical que implica um complexo controlo de variáveis independentemente do formato. O papel dos estudos de mercado, os segredos e desafios na criação de formatos e listas musicais, refinando a programação e mantendo-a competitiva.
IA
Sinal dos tempos, o tópico da Inteligência Artificial assume papel central.
Ela será em breve o novo “driver” do painel eletrónico no carro, onde até hoje a rádio viveu praticamente sozinha. Como a rádio e o áudio podem permanecer relevantes e envolventes neste momento de transição? Há uma série de desafios sem precedentes, assistente de voz, distribuição de conteúdo geolocalizado, personalização de conteúdos, etc. As marcas automóveis está a criar, ela mesma, ambientes exclusivos de entretenimento nos seus carros. A radio tem de ser ativa, ágil para manter os seus conteúdos competitivos e a experiência de escuta uma mais-valia absoluta.
A tecnologia subjacente ao GPT é aplicável a qualquer coisas no mundo. E claro, à rádio também. A ChatGPTRadio criada pela Futuri, aparecerá na conferência, que não é mais do que o nível automatizado e afinado de um sistema anterior que monitoriza em tempo real as conversas online e trends por localização, público-alvo ou formato.
Uma série de softwares na indústria rádio com uso de inteligência artificial são já testados em todo o mundo, fazem parte da evolução do tempo. E ajudarão ao modo como o domínio técnico e humano, se pode tornar mais eficaz, competitivo e popular.
Como será o futuro? De vozes sintéticas, a personalidades construídas artificialmente? Calma. Esse é apenas um lado da história. Pensar primeiro como os humanos podem tirar partido da IA para melhorar a sua performance, histórias, informação e sons.
Podcasts
Sem surpresa, o mundo dos podcasts terá múltiplas abordagens na conferência. Em alguns mercados, desenvolveram-se modelos de negócios com serviços de assinatura pagos, do bem-estar à finança, da educação ao erotismo, casos que conquistaram ouvidos e euros. Outra área a abordar será a estratégia de lançamento de podcasts, absolutamente crucial para o sucesso num meio tão competitivo onde é decisiva uma forte distribuição e marketing, separados do processo de produção.
Criadores de podcasts de todo o mundo lançarão a sua visão para o próximo ano.
Uma oportunidade para perceber o que a rádio pode aprender com os podcasts e o que os podcasts devem também beber da experiência e impacto positivo da rádio, porque na realidade rádio e podcast têm princípios estruturais distintos. É preciso que ambos adaptem e afinem para melhor, os respetivos focos
Tudo isto em destaque perante muitos outros tópicos, como os estudos e pesquisa de audiência, a performance de antena ou a diversidade, com iniciativas onde a rádio seja promotora de equidade e inclusão desde o recrutamento e retenção de talentos para o futuro.