O disco de Carlos do Carmo já é DISCO DE OURO!
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A Antena 1 improvisou um Estúdio de Rádio na sala de trabalho em casa de
Carlos do Carmo, décimo andar a dois passos do centro de Lisboa, uma
vista deslumbrante sobre a capital. Objetivo: em pouco menos de duas
horas, levar Carlos do Carmo a percorrer, Fado a Fado, o disco de 11
duetos que acaba de editar, "Fado é Amor", disco Antena 1. Objetivo concretizado, com gravação de António Farinha, sonorização e montagem de António Antunes e produção de Alice Vilaça.
Uma
"viagem", também, pelo percurso artístico de 50 anos de Carlos do Carmo
onde assomam e, por vezes, se instalam, nomes principais da História do
Fado, do passado e da atualidade.
Uma "viagem" conduzida por António Macedo.
Oiça o programa:
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Ana Sofia Carvalheda dá-lhe a conhecer as razões que
levaram Carlos do Carmo a convidar vozes femininas para duetos neste "Fado é
Amor" e quais as reações de algumas fadistas:
– Aldina Duarte, Ana Moura e
Carminho
– Cristina Branco, Mafalda
Arnauth e Mariza
– Raquel Tavares (sobre o fado que canta com a mãe)
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‘Fado é Amor’ entra directamente para o 1.º lugar do
top de vendas nacional
Disco atinge o Galardão de Ouro na semana de lançamento!
A ideia foi abraçada pelo artista, e levada em ombros como uma celebração do caminho deixado nas carreiras de quem veio a seguir.
E foi assim que o fadista se viu rodeado de uma juventude que a ele deve, em parte, a assunção plena das suas vozes. E faz sentido que o fadista tenha endereçado convites para a celebração deste aniversário a Aldina Duarte, Ana Moura, Camané, Carminho, Cristina Branco, Mafalda Arnauth, Marco Rodrigues, Mariza, Raquel Tavares e Ricardo Ribeiro acompanhados sempre pelo trio milagroso formado por José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola de fado) e Marino de Freitas (viola baixo).
Afinal, não se comemora sozinho e fazê-lo teria sido pouco condizente com a sua postura de generosa contribuição para a redefinição constante dos padrões por que se rege o fado.
Alinhamento:
01 – Camané – Por Morrer Uma Andorinha
Letra: Joaquim Frederico de Brito, Américo Tavares dos Santos
Versículos: Maria Judite de Sousa Leal
Música: Fado Menor (com Versículo)
02 – Mariza – Júlia Florista
Letra: Joaquim Pimentel
Música: Leonel Villar
03 – Carminho – Lisboa Oxalá
Letra: Nuno Júdice
Música: Joaquim Campos [Fado Alexandrino]
04 – Ana Moura – Novo Fado Alegre
Letra: José Carlos Ary dos Santos
Música: Fernando Tordo
05 – Ricardo Ribeiro – Pontas Soltas
Letra: Maria do Rosário Pedreira
Música: Joaquim Campos [Castanheira]
06 – Raquel Tavares – O Que Sobrou De Um Queixume
Letra e Música: Joaquim Frederico De Brito
07 – Cristina Branco – Calçada À Portuguesa
Letra e Música: José Luís Tinoco
Música: Ivan Lins
08 – Marco Rodrigues – Fado Do 112
Letra: Júlio Pomar
Música: Armando Freire (Fado Manganito)
09 – Aldina Duarte – Vou Contigo, Coração
Letra: Fernando Pinto do Amaral
Música: Alfredo Duarte (Fado Bailado)
10 – Mafalda Arnauth – Nasceu Assim, Cresceu Assim
Letra: Vasco Graça Moura
Música: Fernando Tordo
11 – Lucília do Carmo – Loucura
Letra: Joaquim Frederico de Brito
Música: Júlio De Sousa
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CARLOS DO CARMO. DUETOS
"A primeira vez foi por acidente. “Loucura”, fado do reportório de Lucília do Carmo, era o único que a memória do estreante Carlos do Carmo lhe permitia cantar de cor. Foi há 50 anos. E ficou, oficialmente, como o momento inaugural. Como aquele que nos diz que a partir daí Carlos não mais poderia fugir ao chamamento do fado que fervia dentro de si. Desde esse dia, como sabemos – e se não sabemos, adivinhamos –, os acidentes acabaram-se. Até agora. Quando “Loucura”, por clara provocação do destino, invade de novo a obra de Carlos do Carmo para lhe permitir criar um novo dueto com a mãe, como se a gravação de Lucília tivesse ficado pacientemente à espera que o filho se lhe quisesse juntar numa celebração que nos dá conta do 50º aniversário do primeiro “Loucura” mas não ignora a História que Carlos do Carmo transportava já consigo quando ofereceu a vida ao fado.
A Lucília do Carmo cabe, assim, o único tema em que a voz de Carlos do Carmo se cruza com os intérpretes mais antigos do género. No resto, rodeia-se de uma juventude que a ele deve, em parte, a assunção plena das suas vozes. E faz sentido que o fadista tenha endereçado convites para a celebração dos 50 anos de carreira a Camané, Mariza, Carminho, Ana Moura, Ricardo Ribeiro, Raquel Tavares, Cristina Branco, Marco Rodrigues, Aldina Duarte e Mafalda Arnauth, acompanhados sempre pelo trio milagroso formado por José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola de fado) e Marino de Freitas (viola baixo). Afinal, não se comemora sozinho e fazê-lo teria sido pouco condizente com a sua postura de generosa contribuição para a redefinição constante dos padrões por que se rege o fado.
Quando, há dois anos, a Universal começou a planear as comemorações de tão simbólica marca nestes anos de música e vida fundidas uma na outra, deu início a um jogo de sedução que tinha em vista a gravação de um disco de duetos. “Isso normalmente é aquela coisa bizarra de estarmos velhinhos e arrumarem-nos a um canto com uns duetos”, pensou o fadista. Mas a verdade é que a ideia não era levada em ombros por um prenúncio de fim, mas antes por uma comemoração de caminho e do lastro deixado nas carreiras de quem veio a seguir.
Depois, foi preciso um mês a reclamar a mesa de jantar como espaço de trabalho, onde Carlos do Carmo pôde espalhar os 240 fados do seu reportório – do primeiro “Loucura” (1963), ao álbum a meias com Maria João Pires (2012). E aí, trocados o garfo e a faca pela pinça e pela tesoura, o fadista escrutinou discos, poemas e músicas, reduzindo as suas escolhas a 10, antecipando mentalmente as vozes com as quais dialogaria e encaixaria.
Finalmente, emergiu uma regra: a de que estes 10 fados esquecessem, por momentos, os seus grandes êxitos populares. Para que do icebergue não se lhe conheça apenas a ponta, para que de Carlos do Carmo não se lhe conheça apenas uma porção ínfima de uma tão soberba grandeza."
Gonçalo Frota
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MEMÓRIAS, PARTILHAS E AFECTOS
"Este disco, como o seu título à partida confessa, é uma história de amor. Um amor velho de meio século – e por isso mesmo maduro, sereno e sábio, como só o são as paixões duradouras, aquelas que sobrevivem aos caprichos fugazes do desejo e se convertem numa comunhão perfeita do amador com a coisa amada – entre Carlos do Carmo e o Fado.
Começa, assim, por ser um disco de memórias, sem contudo ser uma mera colagem nostálgica de grandes sucessos de uma carreira notabilíssima de cinquenta anos, mas antes um mosaico cuidadosamente agregado de sucessivos testemunhos multifacetados de uma postura permanente de equilíbrio entre tradição e inovação, continuidade e ruptura, património e modernidade. A escolha não é por isso nem óbvia nem inocente, e representa, pelo contrário, a lição de um olhar amadurecido sobre o Fado que sempre soube ver no género um processo contínuo de criação e descoberta, simultaneamente orgulhoso do seu passado e sedento de futuro. No plano da Música partimos do monumento oitocentista do Fado Menor para logo chegarmos aos grandes fados estróficos das décadas de 20, 30 e 40 do século passado, assinados por nomes emblemáticos da tradição fadista como Alfredo Marceneiro, Joaquim Campos ou Armandinho, mas a estes vêm juntar-se os de alguns dos novos compositores que Carlos do Carmo soube chamar para o Fado, como Fernando Tordo, José Luís Tinoco ou Ivan Lins. E no terreno da Poesia encontramos o legado intemporal dos poetas populares do circuito do Fado de meados do século, com destaque para a figura icónica de Frederico de Brito, lado a lado com as obras dos poetas eruditos contemporâneos que, pela mesma mão, souberam mergulhar no espírito e na prosódia próprios da lírica fadista, de José Carlos Ary dos Santos a Fernando Pinto do Amaral, Maria do Rosário Pedreira, Nuno Júdice ou Vasco Graça Moura.
Por esta razão, este disco de memórias é, também, um disco de partilhas. O Fado, como todas as tradições vivas, assenta numa passagem de testemunho constante entre cada geração e a seguinte, numa cadeia ininterrupta de aprendizagem e de descoberta, de transmissão de saber e de produção de novo conhecimento, de heranças e de novas conquistas. A sua verdadeira história não regista, pois, os que se limitaram a repetir fórmulas consagradas e a seguir caminhos sem risco, mas antes os que a cada momento foram capazes de o reinventar sem perder a noção das suas raízes, os que lhe propuseram novas metas e novos desafios, os que souberam ouvir à sua volta e ver mais longe. Foram esses os verdadeiros mestres, aqueles que, sabendo de onde partiam, desbravaram novos caminhos e mostraram pelo seu exemplo aos fadistas que se lhes seguiram que o seu ponto de chegada só podia ser para estes um novo ponto de partida. É o que aqui faz Carlos do Carmo, ao partilhar com os dez fadistas jovens que escolheu estes seus fados consagrados, não como um ritual de veneração, mas como outros tantos espaços de afirmação de personalidades artísticas próprias, de vocalidades inconfundíveis, de caminhos pessoais. O verdadeiro Mestre não é o que o que fabrica réplicas de si próprio, é o que dá aos seus discípulos o exemplo da arte de navegar e sabe em seguida servir-lhes de cais de partida para novas viagens.
Este é, por fim, um disco de afectos. Carlos do Carmo faz questão de nele deixar expressos, de forma sóbria mas explícita, os laços de carinho e gratidão que o unem, em primeiro lugar, ao seu círculo familiar mais íntimo mas se estendem depois a muitos dos amigos fiéis que sempre o cercaram e que de um modo ou outro tocaram a sua vida e a sua arte. O exemplo mais evidente é, claro está, o dueto virtual com a Mãe, a grande Lucília do Carmo, feito com tanta intensidade como pudor, numa homenagem discreta mas cheia de significado. Mas logo no Fado Menor inicial, num testemunho carinhoso de cumplicidade, aí estão os versículos lindíssimos da Mulher, Judite Leal, a bordarem os versos originais do Britinho, ele próprio uma figura paternal para Carlos do Carmo nos seus anos de formação; e nas primeiras frases da guitarra, no mesmo fado, José Manuel Neto reproduz com mão de mestre a introdução com que Raul Nery abriu durante anos o seu programa de guitarradas na Emissora Nacional, a lembrarem a memória de um velho Amigo ausente. Os laços de afecto multiplicam-se depois em rede, evocando ora os Mestres do passado, como Marceneiro e Joaquim Campos, ora o companheiro de tantos caminhos José Carlos Ary dos Santos e os Amigos queridos Júlio Pomar, Ivan Lins, Fernando Tordo ou José Luís Tinoco, e envolvendo afinal num abraço fraternal de comunhão toda a equipa participante no projecto, dos autores evocados aos fadistas convidados, e dos instrumentistas (o trio perfeito de José Manuel Neto, Carlos Manuel Proença e José Marino de Freitas) aos técnicos (que milagre de presença e de equilíbrio – já agora – a captação de Alfredo Almeida!).
Balanço intensamente pessoal de cinquenta anos de actividade artística ímpar, lugar de encontro, cuidadosamente concebido, de memórias, partilhas e afectos, este disco só pode ser, de facto, descrito como uma bela história de amor."
RUI VIEIRA NERY
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No âmbito das comemorações dos 50 anos de carreira de Carlos do Carmo, foram ainda editados, física e digitalmente, todos os seus discos de estúdio. No total são 16 álbuns, numa nova embalagem, três dos quais remasterizados, apresentando também uma nova capa.