CCB – 11 de abril – 21h – Grande Auditório
“Gosto da Parreirinha” assim se chama a homenagem à fadista Argentina Santos que se realiza dia 11 de abril à noite em Lisboa.
Ana Sofia Carvalheda conversou com um dos diretores artísticos deste concerto.
No Centro Cultural de Belém no dia 11 de Abril vai ter lugar um espetáculo de homenagem a uma das mais castiças fadistas de Lisboa.
Maria Argentina Pinto dos Santos, nascida na Mouraria, começou a trabalhar cedo pelo bairro e aí abriu o restaurante que ainda hoje é paragem obrigatória para todos os amantes de fado – Parreirinha de Alfama.
Por lá passaram grandes nomes do fado português, e lá começou também Argentina a cantar fado, nada de muito sério. Quis o acaso que um dia alguém da assistência lhe pedisse para cantar, e assim "entrou numa desgarrada" por brincadeira. Atrás desse pedido outros vieram e o que começou por um mero acaso, acabou por se tornar um "caso sério" na sua vida: para além de proprietária e cozinheira, passou a cantar para os seus clientes sempre que estes lho pediam e nunca mais deixaram de o fazer.
Aos 91 anos, Argentina Santos ainda é um nome incontornável do fado de Lisboa, e é por isso que, nesta homenagem, se juntam amigos, fadistas e músicos como: Celeste Rodrigues, Rodrigo, Ricardo Ribeiro, Pedro Moutinho, Raquel Tavares, Marco Rodrigues, Maria Armanda, Sérgio Silva, Joana Veiga, Sara Correia, José Manuel Neto (guitarra portuguesa), José Elmiro Nunes (viola de fado) e Didi (Daniel Pinto; viola baixo).
Um espetáculo com apoio da antena1!
Ouça o programa "Alma Lusa" dedicado a Argentina Santos
Argentina Santos
Para além do seu "cantinho", durante muitos anos apenas aceitou, pontualmente, alguns convites que lhe foram dirigidos para cantar em algumas festas de amigos ou pequenas comemorações.
A fadista Argentina Santos, de nome completo Maria Argentina Pinto dos Santos, nasceu na Mouraria, em Lisboa, a 6 de Fevereiro de 1924. Filha mais nova de 3 irmãos, iniciou a instrução primária, mas pela necessidade de trabalhar não chegou a terminar.
Já em idade adulta frequentou aulas para aprender a ler e escrever. Ainda criança começou por fazer recados e compras para as senhoras do bairro e depois foi trabalhar numa peixaria, onde se manteve até 1950, altura em que abriu com o seu companheiro, a casa Parreirinha de Alfama, uma casa de pasto, rapidamente transformada em Casa de Fado. Neste espaço mantém-se até hoje, acumulando a gestão com a interpretação do Fado, atividade que iniciou passados 3 anos de estar nessa casa. Argentina Santos é viúva e não tem filhos.
Mulher corajosa e de muito trabalho dedicou-se à cozinha do espaço que abriu. Aí se juntavam muitos fadistas para petiscar e cantar e, a pouco e pouco, criaram o ambiente do restaurante que ainda hoje se mantém.
Argentina Santos não pensava em cantar, conforme conta em entrevista a Baptista-Bastos, quis o acaso que um dia alguém da assistência lhe pedisse para cantar, e assim "entrou numa desgarrada" por brincadeira. Atrás desse pedido outros vieram e o que começou por um mero acaso, acabou por se tornar um "caso sério" na sua vida: para além de proprietária e cozinheira, passou a cantar para os seus clientes sempre que estes lho pediam e, “valha a verdade”, nunca mais deixaram de o fazer.
Por isso mesmo, o grande público do seu país apenas a conheceu quando, pela mão do seu grande amigo e admirador Carlos do Carmo é vista na televisão, nos concertos por
ele realizados no Coliseu dos Recreios (1994) e no Centro Cultural de Belém (1998).
A partir de 1994, pontificou ainda em inúmeros programas de televisão, sozinha ou ao lado de Carlos do Carmo, Jorge Fernando, Carlos Zel e a convite de entrevistadores
como Júlio Isidro, Júlia Pinheiro ou João Baião.
Posteriormente a essas atuações deslocou-se ao Brasil (a S. Luís do Maranhão, em 1995, a convite de Pedro Caldeira Cabral, e a S. Paulo, em 1999 actuando na Casa de
Portugal, com Carlos do Carmo), à Grécia (com Carlos Zel), à Escócia (com Carlos Zel, Rodrigo Félix e Pedro Caldeira Cabral), a França (com Jorge Fernando), à Holanda (com
Carlos Zel e Miguel Capucho) ao País de Gales (com Jorge Fernando), a Londres (com Mafalda Arnauth, Carlos Zel e Rodrigo Félix) e a Itália (com Carlos Zel).
A sua Parreirinha de Alfama tem sido cenário de muitos afetos: por lá têm passado grandes poetas do fado e compositores que lhe têm oferecido todo o reportório que
possui. E, consciente da importância de ter um repertório próprio, Argentina Santos faz questão de cantar temas exclusivos, à exceção do fado "A Lágrima", de Amália
Rodrigues, e do "Lisboa Casta Princesa", do repertório de Ercília Costa, mas popularizado por Lucília do Carmo.
Temas como "A Minha Pronúncia", o "Chafariz d’ El Rei", “As Duas Santas” e “Juras” são a sua imagem de marca, os quais foram registados nos seus primeiros trabalhos
discográficos, ainda em formato de 78 rpm, gravados para a editora Estoril, logo no ano da sua estreia, em 1953.
Os CDs "Argentina Santos", edição de 1998 da Movieplay, e "Argentina Santos", colecção Antologia, editado pela CNM em 2004, são os mais recentes trabalhos
discográficos, duma produção discográfica que não se tornou muito vasta fruto da sua personalidade tímida, mas também do facto do seu companheiro não gostar de a ver
cantar em público nem apoiar a sua carreira como fadista.
Durante muitos anos a fadista recusou a exposição pública e inúmeras deslocações, participando em poucos espetáculos e cingindo-se às apresentações na sua Casa de
Fados e a uma ou outra festa particular. Ainda assim, ao longo de mais de 50 anos de carreira, a fadista cantou ao lado de quase todas as figuras relevantes da interpretação
do Fado, uma vez que a sua casa se tornou uma referência para o público de Fado e por ela passaram e atuaram grandes nomes, como é o caso de Berta Cardoso, Celeste
Rodrigues, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, Maria da Fé ou Fernanda Maria.
Em 1999, no dia 28 de novembro, foi-lhe prestada uma festa de homenagem no Museu do Fado, tendo tido a cantar para si amigos tão especiais como Rodrigo, Jorge
Fernando, Maria da Nazaré, Teresa Tapadas, e, como não podia deixar de ser, Carlos do Carmo. Na altura foi-lhe entregue uma medalha de louvor pelo vereador da
Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, Engº António Abreu.
No ano seguinte, a 28 de abril, foi-lhe prestada uma homenagem no Coliseu dos Recreios em Lisboa, onde participaram inúmeros fadistas das várias gerações, que lhe
teceram elogiosos comentários, demonstrativos do grande respeito inspirado pela fadista Argentina Santos aos seus colegas. Renderam-lhe homenagem grandes vozes
como Carlos do Carmo, Camané, Jorge Fernando, Maria da Fé, Carlos Macedo, Rodrigo e Mafalda Arnauth.
Participou no projeto de Ricardo Pais “Cabelo Branco é Saudade”, um espetáculo dirigido por Ricardo Pais e estreado no Teatro de São João, no Porto, em julho de 2005,
onde participam, para além de Argentina Santos, os fadistas Celeste Rodrigues, Alcindode Carvalho e Ricardo Ribeiro.
A Fundação Amália Rodrigues, na sua primeira atribuição de prémios, em 2005, distinguiu Argentina Santos com o prémio "Carreira".
Nesse mesmo ano a sua casa, a Parreirinha de Alfama, foi também agraciada com o troféu para Casas de Fado entregue no concurso Grande Noite do Fado.