Figura de grande relevo no panorama da canção ligeira portuguesa, sobretudo entre os anos 50 e 70, voz de êxitos como Alcobaça, Não Não Não, Leiria ou Feia, autora de uma obra gravada que a ligou a grandes autores do seu tempo como Tavares Belo, Nóbrega e Sousa, Belo Marques, Joaquim Luis Gomes ou Jerónimo Bragança, Maria de Lourdes Resende morreu no passado dia 25 de novembro. Tinha 95 anos.
Nasceu no Barreiro a 27 de março de 1927. Filha de um organista amador cedo começou a cantar na igreja, deixando saber do seu desejo, nunca concretizado, de ser cantora de ópera. A morte precoce do pai levou-a, ainda bem cedo na sua vida, até Alquerubim, onde viveu com os tios. A música acabaria por entrar definitivamente na sua vida quando, em 1945, por ocasião de uma visita a Lisboa, presta provas na Emissora Nacional, acabando por se estrear pouco depois aos microfones da rádio, inicialmente apresentando-se apenas como Maria de Lourdes. Passa pelo Rádio Clube Português mas é na Emissora Nacional que faz o seu trajeto central, partilhando as suas muito próprias características vocais junto de várias orquestras e participando em diversos programas (entre os quais os míticos Serões Para Trabalhadores ou no Passatempo Musical).
Na alvorada dos anos 50, ao mesmo tempo que expande a geografia do seu trabalho com passagens marcantes por França, pela Suíça e Brasil (onde fica por um ano), fixa parte do seu repertório em primeiros discos de 78 rotações. Data de 1955 o célebre Alcobaça, que seria um dos seus temas de assinatura e aos quais se juntariam outras canções que então tiveram sucesso em disco, entre as quais Adufe, Puxa a Rede, Cidade de Santarém, Montanheira, Manhã na Aldeia, Contra a Maré, Uma Casa à Beira Mar, Moleirinha ou Beira Baixa. Em 1960 partilhou com António Calvário o alinhamento de um EP no qual, ambos, em dueto, cantaram O Papá e a Mamã.
Aos discos juntou, a partir da segunda metade dos anos 50, passagens pela televisão e colaborações em peças de teatro. Entre as suas passagens pelos palcos do teatro destaca-se Um Chapéu de Palha de Itália (1970), peça encenada por Carlos Avillez na qual Maria de Lourdes Resende foi protagonista. Ao contrário de outros seus contemporâneos nunca fez cinema. A rádio foi, contudo, o espaço que mais distinções lhe deu, desde a vitória no Prémio de Cançonetista no Concurso de Artistas Ligeiros da Rádio (1948) às duas ocasiões, em 1955 e 1962, em que foi eleita Rainha da Rádio (pela revista Flama). Participou por uma única vez no Festival da Canção, quando o concurso ainda tinha por nome Grande Prémio TV da Canção. Foi em 1967, chegando ao terceiro lugar com Não Quero o Mundo. A segunda canção que levou ao mesmo concurso, Assim Será o Amor, não passou da etapa das semifinais.
Manteve-se em atividade nas décadas de 70 e 80, porém sem a mesma visibilidade que conquistara nas duas décadas anteriores. Em 1995, ao assinalar os 50 anos de carreira, foi distinguida em Alcobaça, que então deu a uma das suas ruas o nome da cantora. Em 2019 o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou-a com a Ordem de Mérito, com o grau de comendador.