Não passava despercebido. Em primeiro lugar pelas canções importais que gravou. E depois por aquele bigode (que não habitava no seu rosto nos seus primeiros tempos na música), o cabelo longo, a sua expressão tão característica, e um carisma que não deixava ninguém indiferente. São características que ffizeram de David Crosby uma das figuras universalmente mais reconhecidas entre as que emergiram na cultura pop/rock americana dos anos 60 e que ontem nos deixou, aos 81 anos, vítima (como a família deu a saber) de uma doença prolongada.
Guitarrista, cantor, autor e também produtor, fundador dos The Byrds e mais tarde dos Crosby Sills & Nash (aos quais se juntaria depois Neil Young), inscreveu o seu nome na história do rock norte-americano, tendo a sua obra demonstrado ainda interesses significativos quer pela folk quer por regiões do jazz. Figura de referência entre o grupo que colocou o Laurel Canyon na história da cultura californiana, era conhecido pelo seu temperamento volátil (uma discussão com os colegas sobre o assassinato de John F. Kennedy levou ao seu afastamento dos Byrds em 1967) e enfrentou casos policiais relacionados com drogas e armas, tendo até chegado a cumprir uma pena de prisão durante nove meses, em 1985. David Crosby fez, contudo, do grosso do seu percurso, um trabalho partilhado entre colaboradores não menos notáveis, acabando por assinar a solo apenas um álbum nos anos 70, um nos 80, um nos 90, com uma sucessão de maior continuidade depois de 2014. Além dos companheiros de banda outra voz com quem assinou um momento discográfico foi Joni Mitchell, com quem teve um breve relacionamento, com ela trabalhando (como produtor) no álbum de estreia Song To a Seagull (em 1968).
David Van Cortlandt Crosby nasceu em Los Angeles em 1941. Chegou a ponderar um caminho como ator, mas cedo abandonou essa ideia para se concentrar na música, retomando essa velha paixão muitos anos depois, com pequenos papéis em séries e a voz cedida a dois episódios dos Simpsons. Na mais tenra juventude passou por primeiras aventuras e bandas até ao dia em que, de passagem por Chicago, conheceu Jim McGuinn (que mais adiante passaria a apresentar-se como Roger). O mítico encontro foi o momento zero de um processo que juntaria em breve outros músicos que, na hora de procurar um nome escolheram inicialmente a designação Jet Set, acabando depois por optar por… The Byrds. Com acesso uma primeira gravação de Mr. Tambourine Man de Bob Dylan bem antes da sua edição em disco, fizeram de uma versão da canção o seu segundo single, editado dias após a versão do seu autor. A leitura electrificada da canção não só lhes deu um primeiro número um, como inevitáveis focos atenção e uma “assinatura” que então exploraram quer na abordagens a cancioneiros seus contemporâneos quer na gradual emergência das próprias vozes criativas. Cedo reconhecido pela criação de harmonias, mais adiante assinando a voz protagonista em algumas ocasiões, Crosby começou a ver as suas canções a surgir no alinhamento dos álbuns dos The Byrds depois do segundo álbum (aí numa parceria com McGuinn), afirmando só depois, a partir de Fifth Dimension, um espaço autoral mais vincado, sendo seus alguns temas marcantes da etapa vivida pelos Byrds entre 1966 e 67, entre os quais o mítico Eight Miles High. Canção que levantou polémica quando foi proibida por alegadas alusões a consumos de drogas, este clássico maior do psicadelismo representa um entre vários momentos, atitudes e feitos que transformariam David Crosby numa referência da contracultura dos anos 60, estatuto que vincou pelas posições pacifistas que tomou ao assumir um papel crítico contra a guerra no Vietname.
A discussão com os colegas, em 1967, levou-o a procurar outros caminhos, deixando a meio o seu trabalho no álbum The Notorious Byrd Brothers (que seria editado já em 1968). O músico juntou-se então a Stephen Stills (que vinha dos Buffalo Springfield) e ao britânico Graham Nash para formar um trio que faria história logo na sua estreia, em 1968, ao qual chamaram, simplesmente, Crosby, Stills & Nash. Pouco depois a eles juntou-se Neil Young, editando o quarteto o não menos marcante Déjá Vu (1970), vincando a solidez de um percurso que, salvo num intervalo entre 1970 e 73 (durante o qual Crosby gravou um primeiro disco a solo e um álbum de reunião com os The Byrds), se manteve ativo até 2015, tendo entre um dos seus maiores feitos uma atuação (a segunda da banda, mais concretamente) pelo palco do mítico Festival de Woodstock (em 1969). Com Graham Nash gravou ainda quatro álbuns de estúdio e dois ao vivo (sob o nome Crosby & Nash). Entre 1998 e 2003 gravou quatro álbuns com o trio CPR, ou seja, Crosby, Pevar & Raymond, que formou com o seu filho James Raymond e o guitarrista de estúdio Jeff Pevar. O seu percurso passa ainda por participações em discos de Joni Mitchell, Jackson Browne, James Taylor, Phil Collins, Elton John, Art Garfunkel, Carole King, Grace Slick ou as Indigo Girls. Em 1999 colaborou num disco de homenagem a Gram Parsons, que se juntou aos Byrds depois da sua saída, cantando aí Return of the Grievous Angel com Lucinda Williams.