Em Janeiro de 1970 embarcaram no Império 1400 militares com destino a Moçambique. Perto de Cabo Verde ficaram à deriva e com água no casco. Foram dias incertos que a guerra acentuou, também para os ficaram para trás – e Carlos Guerreiro recupera esta história no mais recente podcast da Antena 1, com um novo episódio para ouvir a cada sábado.
O germe de “Na Deriva do Império” surgiu há 16 anos, quando o jornalista encontrou um tripulante do paquete Império. “Estava a realizar trabalho de investigação para um livro e Isidoro Correia tinha uma fotografia que me interessava”, conta-nos Carlos Guerreiro. “Desde logo fiquei apaixonado pela história. Um navio moderno sem quaisquer condições e com mais de mil pessoas a bordo sem experiência de mar era uma situação única e certamente sem paralelo.”
Transferir a ideia do papel para a rádio, contas feitas, demorou mais de dois anos, começando pela preparação nos arquivos da Marinha e do Exército, bem como na Torre do Tombo e na Hemeroteca Municipal de Lisboa. Seguiram-se as entrevistas com os militares do navio: “Há cerca de um ano comecei a escrever a história, acreditando que seria uma coisa rápida… enganei-me.” Um trabalho de pormenor que se deteta ao longo de sete episódios, numa reconstrução criteriosa – sensível e até gráfica em pontos, ou, segundo Aurélio Gomes no programa “Destacável”, “nauseante”.
Quando tens várias pessoas a descrever situações semelhantes mergulhamos também nessa realidade e nem sempre é fácil continuar. Tive dois tipos de pausas: umas por causa da dureza das descrições e outras para tentar reproduzir esses momentos encontrando um equilíbrio entre o piegas e o insensível.
“Na Deriva do Império” é, para muitos tripulantes do paquete Império, um regresso a um momento difícil; ficamos a saber também “o que sentiram quando tiveram de ir para a guerra” e como as suas famílias “acompanharam tudo isto.” Carlos Guerreira conclui: “Num trabalho deste tipo tenho a certeza que irei ferir as suscetibilidades de alguém. Mas sei que tentei respeitar a história e acima de tudo as pessoas que contribuíram para os vários episódios.”