Na edição digital do jornal El Pais, um pequeno vídeo de menos de três minutos sobrevoa alguns dos mais recentes paraísos do turismo macabro ou obscuro, como é designado pela académica Raquel Huete, uma investigadora de sociologia do turismo da Universidade de Alicante. Quase um ano decorrido sobre o ataque terrorista do Hamas durante um festival de música no sul de Israel, um grupo de tanatoturistas percorre o local, em busca de recuerdos. Há aqui uma vertigem do mórbido que incomoda e coloca perguntas e perplexidades. O video estabelece um fio entre a apetência de turistas pelo martírio de Gaza e a motivação para uma visita a Auschwitz ou Hiroshima. Mas o pacote é, no mínimo, precipitado.
As lágrimas que não contive, há anos, no campo de concentração do Tarrafal não estavam enquadradas por um voucher de agência. Sei que há um roteiro turístico de cemitérios ou de locais de antigas batalhas, mas este vídeo leva-nos, por caminhos outros, a uma estranha paisagem onde os mortos quase gritam ainda, onde a morte passeia a sua obscenidade.
É o mercado, dirás. E talvez alivie Veneza. Há vários anos, os Montes Golã são um miradouro privilegiado de onde os turistas vislumbram colunas de fumo de guerras avulsas, tal como os observadores de aves esperam o garajau ou o papagaio do mar.
Mas se estas guerras terminarem, entretanto, por falta de munições ou por varinha mágica trumpiana, alguém estará talvez planeando a futura possível batalha do Nilo, envolvendo o Egipto e a Etiópia por causa de uma barragem, a maior hidroeléctrica de África, que resolverá os problemas de electricidade enfrentados por mais de metade da população etíope ainda que deixando à míngua de água mais de 100 milhões de egípcios.