É uma tradição que já vem de 1952: desde então, e a cada dez anos, a revista Sight and Sound, do British Film Institute, lança o desafio a profissionais da área do cinema de escolherem os dez filmes que consideram os melhores entre os melhores. Dessas seleções individuais são geradas duas listas, em que a segunda contém as escolhas dos realizadores.
Para 2022 a Sight and Sound prometeu surpreender. Já a lista anterior, de 2012, trouxe uma grande novidade: A Mulher que Viveu Duas Vezes de Alfred Hitchcock, destronou O Mundo a Seus Pés de Orson Welles, que ocupava o primeiro lugar desde a lista de 1962 (na primeira foi Ladrões de Bicicletas de Vittorio de Sica).
Numa era de mudanças velozes no setor do cinema, e em que o escrutínio sobre o passado e a falta de representatividade está na ordem do dia, a Sight and Sound convidou, para a criação da nova e tão reputada lista, o maior número de participantes de sempre: foram 1639 entre críticos, programadores, curadores, arquivistas e académicos, com mais jovens ao barulho e algumas mudanças no cânone.
Estes convites reflectem-se numa lista que tem agora mais filmes contemporâneos e que foi revelada às 19 horas do dia 1 nas redes sociais da Sight and Sound.
A começar pela principal: o novo número 1 não é nenhum dos dois filmes mencionados, mas sim a obra mais célebre da belga Chantal Akerman: Jeanne Dielman, 23, quai du commerce, 1080 Bruxelles, lançado em 1975 e que segue o quotidiano da protagonista ao longo de 202 minutos.
A Sight and Sound escreveu no seu site que esta surpresa tem vários significados: “Nenhum outro filme feito por uma mulher chegou ao top dez. (…) não é surpreendente: as realizadoras de cinema sempre foram, obviamente, poucas e distantes entre si; e os críticos que contribuíram [para a lista antes] eram predominantemente masculinos”.
Jeanne Dielman… subiu assim 35 lugares em relação a 2012. Já A Mulher que Viveu Duas Vezes passou para o segundo lugar e O Mundo a Seus Pés finaliza o pódio.
Já a lista dos realizadores, que em 2012 teve no topo Viagem a Tóquio, de Yasujirô Ozu, também teve uma substituição, se bem que menos surpreendente: o novo favorito dos cineastas de todo o mundo é 2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick.
A próxima edição da revista Sight and Sound trará mais detalhes sobre as escolhas desta lista de 2022 e com uma singularidade: quatro capas diferentes alusivas aos novos e aos antigos “reis” da mais célebre lista da cinefilia.
Confira abaixo os dez primeiros lugares das duas novas listas.
Lista principal
- Jeanne Dielman, 23, quai du commerce, 1080 Bruxelles (1975)
- A Mulher que Viveu Duas Vezes (1958)
- O Mundo a Seus Pés (1941)
- Viagem a Tóquio (1953)
- Disponível para Amar (2000)
- 2001: Odisseia no Espaço (1968)
- Beau Travail (1998)
- Mulholland Drive (2001)
- O Homem da Câmara de Filmar (1929)
- Serenata à Chuva (1951)
Lista dos realizadores
- 2001: Odisseia no Espaço (1968)
- O Mundo a Seus Pés (1941)
- O Padrinho (1972)
- Viagem a Tóquio (1953
- (ex aequo) Jeanne Dielman, 23, quai du commerce, 1080 Bruxelles (1975)
- (ex aequo). A Mulher que Viveu Duas Vezes (1958)
- (ex aequo). Fellini 8 1/2 (1963)
- A Máscara (1966)
- (ex aequo) Disponível para Amar (2000)
- (ex aequo) Close-up (1989)
As listas completas podem ser consultadas em bfi.org.uk.