Foi em 1978 que o disco sound chegou ao mainstream, conquistando definitivamente uma dimensão global que tanto encantou como gerou respostas de ceticismo (e até de violência). Na verdade o disco já contava com uns anos de vida, e até mesmo alguns episódios de sucesso antes desse ano em que canções criadas para dar vida às pistas de dança surgiam nas rádios (a toda a hora) e geravam sucessos de vendas nas lojas de discos. Em 1978 não se ia a lado nenhum sem que o disco se fizesse escutar. E até mesmo os Rolling Stones se renderam ao fenómeno (aconteceu ao som de Miss You). Mas para que uma música originalmente nascida em clubes frequentados por comunidades afro-americanas, latino-americanas e gay chegasse a tão global estatuto, um clique teve de acontecer. É claro que os êxitos, outrora algo pontuais, se começavam a avolumar. Mas curiosamente o “golpe de misericórdia” não chegou nem com uma canção ou uma aposta de uma estação de rádio… Chegou com um filme. Realizado por John Badham (o mesmo de WarGames), teve por título Febre de Sábado à Noite (literalmente Saturday Night Fever no original) e chegou às salas de cinema fez esta semana 45 anos.
A estreia de Febre de Sábado à Noite, em dezembro de 1977, operou o de facto “clique” que faltava a uma música (e toda uma cultura a si associada) que até aí vivia essencialmente em clima underground. Animado por canções dos Bee Gees (e não só), o filme ensaiava, com uma carga de certa forma socialmente realista, o retrato de figuras de uma sociedade na qual, depois de dias de trabalho, os serões de fim de semana passados na pista de dança, entre música disco e passos e gestos de cativar o olho, permitiam gerar espaços de fuga e escape às horas dos turnos diurnos. A trama é centrada na figura de Tony Manero, um jovem italo-americano (interpretado por John Travolta) que nos transporta não só para as noites vividas na discoteca, como para cenas de um quotidiano feito de rotinas em Brooklyn. Do contraste entre um dia a dia vivido entre desilusões e sem aparente futuro maior e a fuga para fantasias na pista de dança o filme acaba por retratar o nascimento de uma cultura que, meses depois, alcançava uma dimensão mainstream.
Dominada por canções dos Bee Gees, mas com outras mais pelo meio, a banda sonora de Febre de Sábado à Noite teve edição em disco – um álbum duplo – em meados de novembro de 1977, ou seja, um mês antes da estreia do filme. Na verdade a série de aperitivos tinha começado a ser servida em setembro, com uma sucessão de singles que, de cada um para o seguinte, cada vez maior sucesso iam conhecendo. How Deep is Your Love e More Than a Woman abriram o caminho e, no final do ano, Stayin’ Alive tornava-se num sucesso planetário cujos ecos ressoariam por 1978… O efeito de continuar o fenómeno coube então, no início do novo ano, a um quarto single. Era Night Fever e fecharia o ciclo ligado a Saturday Night Fever. Então, o grupo australiano, que somava então já uma década de vida discográfica, tornou-se, graças ao sucesso do filme, no primeiro caso de fenómeno global e continuado gerado em terreno disco sound. As suas canções e as imagens do filme adubaram então não só uma adesão em massa ao disco sound como vincaram transformações já em curso no plano dos comportamentos. Depois da febre os sábados (à noite) nunca mais foram os mesmos.
Antena 1
Nuno Galopim | 17 dez, 2022, 00:00
Foi há 45 anos que as noites de sábado viveram em febre
Com John Travolta como protagonista e canções dos Bee Gees em destaque a “Febre de Sábado à Noite” gerou um fenómeno cultural e social.
Antena 1
Nuno Galopim | 17 dez, 2022, 00:00
Foi há 45 anos que as noites de sábado viveram em febre
Com John Travolta como protagonista e canções dos Bee Gees em destaque a “Febre de Sábado à Noite” gerou um fenómeno cultural e social.