Há uma certa justiça poética no dia da morte de Hermínia Silva, figura maior da cultura popular portuguesa, que nos deixou há 30 anos, em 1993. Foi em pleno Santo António, 13 de junho, festa do padroeiro da sua cidade natal.
É um dos maiores nomes do fado no século XX, tanto quanto da revista, do cinema e do teatro em Portugal. Uma voz cuja influência e popularidade se construiu dos anos 20 até à década de 1980, com êxitos como Fado da Sina, A Tendinha, Vou Dar de Beber à Saudade, ou Rosa Enjeitada. Este ano, o Santa Casa Alfama dedica-lhe um tributo digno de ícone, com atuações de Anabela, FF, Filipa Cardoso e Lenita Gentil — e a Antena 1 evocou-a hoje, nas suas manhãs, com o testemunho de David Ferreira.
A estreia da fadista ocorreu ainda na década de 1920, granjeando sucesso no teatro de revista e começando a gravar pouco depois. Desde essa altura, em que os discos de 78 rotações eram o formato corrente no mercado discográfico, até à década de 80, a editora que lançou quase toda a sua obra foi a Valentim de Carvalho. A exceção foi um pequeno período nos anos 50, em que gravou pela Rádio Triunfo, do Porto.
Alfacinha de gema, Hermínia desde muito nova manifestou grande aptidão para cantar. Aos treze anos já cantava no Valente das Farturas, no Parque Mayer. E com tanto êxito, que logo a convidaram para o teatro, o que aconteceu alguns anos depois, como atração fadista na revista A Fonte Santa.
Nunca mais parou. Foi vedeta do teatro de revista em mais de meia centena de peças ao lado de Estêvão Amarante, Irene Isidro, Vasco Santana, Laura Alves e António Silva, entre outros. Em 1946, ganhou o Prémio Nacional do Teatro, como a melhor atriz do ano, numa charge à Antígona interpretada por Mariana Rey Monteiro.
Participou nos filmes A Aldeia da Roupa Branca, O Costa do Castelo, Um Homem do Ribatejo, Ribatejo e O Diabo Era Outro, com Beatriz Costa, Vasco Santana, Milú e António Calvário.
Se a sua graça era natural, natural foi também o bom acolhimento que o público sempre lhe reservou. Hermínia, a quem Amália chamou “a outra grande”, gravou muitos fados, mas também paródias a várias canções de sucesso nacionais e estrangeiras. Sagrou-se, pelo fado e pela revista, um dos grandes vértices da canção popular portuguesa.