Em Portugal, o ciclo da mutilação genital feminina (MGF) começou a quebrar-se há uma década. Desde 2015 que a MGF é um crime autónomo no nosso país, com penas que podem ir de dois a dez anos de prisão. A legislação portuguesa permite medidas de proteção para meninas em risco de serem levadas para outros países para serem submetidas a esta prática.
A nível mundial, segundo estimativas da Unicef e do Fundo de População das Nações Unidas, pelo menos 230 milhões de meninas e mulheres de 31 países em três continentes foram submetidas a esta prática.
A jornalista Sandra Henriques é a autora da reportagem do “A1 Doc” desta semana: “Não me vou calar mais”. O título é a frase corajosa de Fatu que, com apenas 5 anos, foi submetida ao “fanado”, o termo usado na Guiné-Bissau para a prática da mutilação genital feminina. Disseram-lhe que era tradição, um ritual de passagem “para ser pura”. Durante anos, Fatu guardou silêncio. Hoje, aos 26 anos, e já em Portugal, encontrou a sua voz e repete: “Não me vou calar mais.”
A reportagem explora como, em Portugal, esta realidade está a mudar. Há mães que começam a questionar tradições ancestrais e filhas que se recusam a perpetuar o silêncio. Os profissionais de saúde estão também mais atentos e treinados para identificar casos e falar com mulheres sujeitas à MGF.
“Não me vou calar mais” é uma reportagem sobre um tema difícil, mas essencial para compreender como algumas tradições podem ser questionadas; e como a coragem e o acompanhamento podem quebrar ciclos de sofrimento transmitidos de geração em geração.