Em 1940, a Emissora Nacional libertava-se da tutela dos CTT e tornava-se um organismo autónomo, lançando o seu plano de radiodifusão nacional. Nascia uma nova era para a rádio. Foram previstos um emissor de Onda Média de 50 kW e um de Onda Curta de 40 kW em Lisboa, além de emissores regionais no Porto, Coimbra e Faro. Nesse ano, o Emissor Regional do Norte começou a funcionar provisoriamente no Palácio de Cristal, no Porto.
Instalou-se nos lares portugueses como companhia diária. Era mais do que som: era a voz de um país em transformação, num tempo marcado pela Segunda Guerra Mundial. Noticiários, programas políticos e iniciativas culturais fizeram da EN o centro da vida nacional.
Os anos 40 refletem o poder da rádio, também no cinema. O momento clássico de António Silva no filme “Costa do castelo” de 1943, é disso exemplo:
“Mas isto toca? Se toca. Isto abre-se, liga-se à parede e é uma torneira a deitar música. Você vai ver… são as bobinas que ainda estão frias… Frapé… não vê você que a onda bate na lâmpada e recua. E daí o som quer sair e não pode! Tem de aquecer o carburador” No ano seguinte, 1944, Artur Duarte realiza “A Menina da Rádio”
A década ficou marcada por momentos históricos: a cobertura do grande ciclone que assolou o país em 1941, as celebrações dos Oito Séculos da Nacionalidade e campanhas solidárias como “Salvemos as crianças vítimas da guerra”. A rádio era presença, informação e mobilização.
Foi também nos anos 40 que surgiram programas que ficaram na memória, como o Serão para Trabalhadores (1941), o Domingo Sonoro e as rubricas de Rádio-Teatro. Vasco Santana e Irene Vélez deram vida às vozes inesquecíveis de “Zéquinha e Lélé”, que animaram gerações. O Folhetim Radiofónico e o Rádio-Teatro, que introduziram narrativa e espetáculo na antena.
Os anos 40 foram o tempo em que a rádio se tornou o coração da casa portuguesa. Uma década que fez da Emissora Nacional não só um órgão de comunicação, mas um símbolo cultural e social de todo um país. Os aparelhos, ainda caros, começaram a ser produzidos em versão económica pela RCA com a marca Emissora Nacional, para democratizar o acesso. A rádio conquistou lugar de honra nas salas de estar, tornando-se companhia diária e fonte de informação num país em plena Segunda Guerra Mundial.
A EN criou o Centro de Preparação de Artistas da Rádio e o Gabinete de Estudos Musicais, responsáveis por formar intérpretes e por encomendar obras a compositores como Rui Coelho, Joly Braga Santos e Armando José Fernandes, algumas delas apresentadas por rádios internacionais.
Em 1945 nasceu o 2.º Programa da Emissora Nacional, hoje Antena 2, reforçando a aposta cultural. Ao longo da década, a EN transformou-se de mera estação estatal em pilar cultural e social, unindo informação, entretenimento e música, e tornando a rádio pública o coração sonoro de Portugal.