Em 1961, a Emissora Nacional lança A Voz do Ocidente, usando as ondas curtas e médias para levar a voz oficial de Portugal ao mundo. Maria da Paz Santos e Jesuíno de Noronha tornam-se rostos (ou vozes) destas emissões internacionais, que eram tanto rádio como propaganda política. Há novos emissores, programas culturais e noticiários em várias línguas mas a linha ideológica mantém-se evidente através de João Patrício, cuja leitura dos Editoriais e Notas do Dia às 13h estava em sintonia com o discurso de propaganda do regime.
A década é marcada pela guerra em África. A EN envia repórteres para Angola em 1961, mas apenas a versão oficial chegava aos ouvintes. A rádio era o principal veículo do regime e das suas mensagens sobre o Ultramar, mantendo um tom uniforme que só as rádios clandestinas contrariavam.
O sequestro do paquete Santa Maria, processo liderado por Henrique Galvão (que fora o primeiro diretor da Emissora Nacional), foi um dos maiores momentos da história da rádio portuguesa. A EN dedicou-lhe 140 horas de emissão e Artur Agostinho foi enviado ao Recife. A cobertura contínua mostrou como a rádio podia mobilizar um país inteiro.
Em 1966, a EN esteve em direto no Mundial de Futebol e nos grandes momentos do regime: os 40 anos do Estado Novo e a inauguração da ponte sobre o Tejo. A rádio era o palco oficial da narrativa do poder.
A viragem tecnológica chega com a estereofonia e a FM. O RCP foi pioneiro em 1968, surpreendendo com a quantidade de ouvintes equipados para o novo som. Poucos dias depois, a EN seguiu o mesmo caminho, transmitindo uma ópera em direto do São Carlos para Lisboa. A rádio portuguesa começava a dar sinais de mudança.
No final da década, a televisão ganhava terreno e alterava hábitos. A crítica já dizia: onde a TV chegava, a rádio calava-se à hora do prime time.
No início da década, os “Serões para Trabalhadores” ainda eram a bandeira da Emissora Nacional. O formato já carregava décadas de história e em 1960 contabilizava mais de 900 emissões apenas em Lisboa. Oferecia recreio e escape através de música exclusivamente portuguesa – mas a crítica via nele um modelo gasto.
No final da década, o debate interno sobre os noticiários ganhou força. As emissões de 40 minutos afastavam ouvintes e João Silva Gonçalves impôs o limite de 30 minutos. Ainda assim, a hierarquia das notícias continuava rígida: o presidente da República em primeiro lugar, mesmo que fosse apenas uma inauguração de fontanário. A noção de “última hora” era praticamente inexistente e os registos magnéticos tornaram-se objeto de intermináveis discussões internas.
No campo desportivo, Artur Agostinho foi mais do que um relator. A transmissão da final da Taça das Taças de 1964 e o golo olímpico de Morais ficaram imortalizados na sua voz. As proezas do Benfica bi-campeão europeu e a epopeia da Seleção no Mundial de 1966 tiveram nele a narrativa perfeita, elevando a rádio a palco principal do futebol português.