De Cabo Verde para o Mundo da música “Epistola”.
Ana Sofia Carvalheda conversou com Carmen Souza e Theo Pascal e, juntos, percorreram 11 viagens de música.
Epistola
Neste disco, Carmen Souza, filha de Cabo-Verdeanos nascida em Lisboa, junta-se ao seu produtor e colaborador musical desde há muitos anos, o também baixista português Theo Pascal.
Ao longo dos anos transformou-se numa verdadeira força da world music e uma das vozes de jazz europeias mais requisitadas.
Neste seu novo disco, Carmen Souza começa com uma versão de “Cape Verdean Blues”, tema de Horace Silver, ou melhor, de Horácio Tavares da Silva: o histórico pianista norte-americano tinha ascendência em Cabo Verde. O facto tem um significado simbólico claro: a cantora cabo-verdiana pretende cada vez mais afirmar-se como uma voz do jazz, que não apenas da world music. E muito jazz, de facto, podemos encontramos nele, com a participação de músicos da cena inglesa como Shane Forbes, Matt King, Craig Yaremko e Zoe Pascal.
Os temas são cantados em Crioulo, Português, Francês e Inglês, seguindo precisamente o espírito do world jazz. Além dos fundamentos africanos e dos formatos do bop e do pós-bop (na promoção do CD são mesmo reivindicadas as influências de John Coltrane e Ornette Coleman), são também detectáveis referências na MPB, um ou outro padrão rítmico latino e algumas das atmosferas do jazz português, ou não tivessem as carreiras de Souza e Pascal arrancado no nosso país. O trabalho é algo desigual, com canções entusiasmantes a nível composicional e de execução e outros redundantes, as colocações de voz, os materiais e as situações repetindo o que se tinha ouvido antes. Uma coisa é certa, porêm: nunca jazz e Cabo Verde estiveram tão juntos como aqui desde que Silver lembrou as suas origens.