É inaugurada hoje a exposição que dá a conhecer as cartas inéditas de Bob Dylan adquiridas pela Livraria Lello no final do ano passado, e que ficará patente no primeiro andar da livraria até 6 de abril. Aurora Pedro Pinto, administradora da livraria, revela que esta “não será uma exposição total das cartas”. “Recebemo-las no final de dezembro. Estamos a falar um espólio valiosíssimo, de um autor que sonhava vender um milhão de discos e que vendeu mais de 125 milhões, venceu vários prémios na área da música e da literatura, incluindo o Nobel”, explica à Antena 1, realçando a importância das mais de 150 páginas manuscritas por Bob Dylan que agora pertencem ao espólio da Lello.
Escritas no final dos anos 50, quando ainda era conhecido pelo seu nome real, Robert Allen Zimmerman, as 42 cartas são dirigidas a Barbara Ann Hewitt, uma paixão da adolescência. A aquisição deste lote de cartas nunca antes divulgadas (e encontradas pela filha da recetora, em 2020, após a sua morte) surge na sequência do considerável acervo de raridades literárias que a Livraria Lello tem vindo a reunir.
Questionada sobre as motivações que levaram à sua compra (à leiloeira RR Auction), Aurora Pedro Pinto responde: “A aquisição destas cartas foi um ato de amor, antes de tudo. Uns dias antes lemos uma notícia num jornal e sentimos que não podíamos escapar ao destino de as trazer para nossa casa, juntando-as ao nosso espólio. E por isso foi com grande alegria que, com um investimento de mais de 500 mil euros, uns dias depois saímos vencedores do leilão.” Esta é uma aquisição que, como explica, se insere num plano recente. “Tem sido de facto uma estratégia dos últimos anos a aquisição de livros antigos, livros raros, primeiras edições, livros-objeto, coffee table books. Em março do ano passado, inaugurámos a nova sala Gemma, onde temos guardados todos estes tesouros. Costumamos dizer que sonhamos tornar-nos o maior colecionador privado do mundo, e temos como objetivo contribuir para a valorização deste tipo de obras, no nosso entender tão valiosas como qualquer outro objeto de arte”, salienta.
Mas sendo cartas nunca antes divulgadas e escritas a uma paixão dos tempos do liceu, e portanto certamente com algum conteúdo romântico, surge a curiosidade sobre o que revelarão no essencial relativamente a um período da vida do cantautor sobre o qual não é conhecida muita informação. Em que medida serão repositórios de “sementes” do futuro Bob Dylan? Aurora Pedro Pinto esclarece: “São cartas de um adolescente apaixonado, com cerca de 150 páginas na totalidade, e que datam entre dezembro de 1952 e abril de 1959. O apaixonado Dylan escreve praticamente todos os dias, às vezes mais do que uma vez por dia, a Barbara Ann Hewitt, que se tinha mudado para o Minnesota, a três horas dele. As cartas contam todos os dramas típicos de um adolescente e revelam as origens de Bob Dylan enquanto músico, o sonho de vender um milhão de discos ou de partilhar o palco com Buddy Holly. São cartas que contam as verdades, os sonhos, também as mentiras que ele partilha de uma forma emotiva e utilizando até um modo de escrever que se refletirá mais tarde nas suas músicas mais icónicas, como o Blowin’ in the Wind ou a The Times They Are a-Changin’.”
Texto de Nuno Camacho