"Se Eu Fosse Ladrão… Roubava", "Os Verdes Anos" e "Mudar de Vida", três filmes de Paulo Rocha podem ser vistos esta semana em cinema e são editados em DVD.
Em Lisboa, os 3 filmes estrearão no Cinema Ideal e no Porto no UCI Arrábida na quinta-feira dia 14 de maio.
A edição DVD conjunta de Os Verdes Anos e Mudar de Vida acontece no dia 16 de maio e a antena 1 oferece esta caixa aos ouvintes.
"Se Eu Fosse Ladrão… Roubava"
Partindo da memória familiar e da matéria dos seus filmes, Paulo Rocha revisita as suas origens e as referências maiores da sua vida e obra, numa construção fluida e complexa, que é conscientemente testamental embora só indirectamente autobiográfica (ele filma-se através do pai e dos personagens da sua obra).
O motor inicial do filme é a evocação da infância e juventude do pai do autor, em particular o sonho obsessivo deste, na altura partilhado por muitos, de emigrar para o Brasil, para onde partiu efectivamente em 1909 (embora a cronologia verdadeira, tal como os factos e os nomes, sejam alterados, ou por vezes deslocados, em função das rimas com os outros filmes).
Mas este tema familiar cruza-se desde o início com o grande mundo da obra de Rocha, num puzzle de raccords temáticos que se dirige para dentro e para trás (a busca do centro, ou da origem…) tanto quanto para fora (a constante ampliação de sentido, a identidade de um país).
Paulo Rocha fala portanto da sua própria necessidade de partir, e da interrogação de Portugal através da distância – o tempo formativo em Paris, depois a longa estada no Japão -, assim como fala da morte, mas também da doença e de um medo tornados endémicos, corrosivos de um país.
Em paralelo, vão surgindo, nos excertos dos seus filmes, grandes referências da sua obra: homens como o escritor radicado no Japão Wenceslau de Moraes (1854-1929), o poeta Camilo Pessanha (1867-1926) ou o pintor Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918) – todos representantes de um fulgor criativo dos inícios do século tanto quanto justamente, de uma relação problemática com o país de origem.
Por outro lado Se eu fosse ladrão… é ainda um repositório de um outro diálogo estruturante da obra de Paulo Rocha – neste caso, particularmente associado a Amadeo – em que a inspiração na cultura universal se funde com um trabalho genuíno, dir-se-ia antropológico, sobre a cultura popular portuguesa, em especial centrada na região norte do país (os pescadores do Furadouro, o vale do Douro…).
Mudar de Vida
Uma praia de pescadores, o mar que a pouco e pouco vai conquistando a terra. A luta do homem com o mar e sobretudo a luta entre a tradição e o progresso. No centro do drama estão as relações sentimentais, difíceis e quase absurdas que unem um pescador, Adelino, de regresso da guerra de África e duas mulheres, Júlia, uma mulher do mar (à moda antiga), e Albertina, uma operária misteriosa e selvagem. Voltando do Ultramar, Adelino encontra Júlia, a sua antiga namorada, casada com o seu irmão. O drama surge… Albertina, a operária, desafia-o a partir, a Mudar de Vida.
Esta cópia corresponde ao restauro digital de “Mudar de Vida” levado a cabo por iniciativa do Realizador e em grande parte concluído em vida deste. A nova matriz digital de imagem de resolução 2K foi obtida por transcrição do negativo de imagem de 35mm. O som foi restaurado digitalmente tomando como referência a mistura final do negativo de som óptico mas recuperando também bandas magnéticas parciais. Prosseguindo a colabora~ção inicialmente prestada a Paulo Rocha, as várias etapas do restauro tiveram supervisão do Realizador Pedro Costa, a quem a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema manifesta o seu profundo agradecimento
Os Verdes Anos
Um rapaz de 19 anos, Júlio, vem para Lisboa a fim de tentar a sua sorte como sapateiro.
No dia em que chega a Lisboa, um acidente fá-lo conhecer Ilda, uma rapariga da mesma idade, empregada doméstica num prédio perto do local de trabalho de Júlio.
À medida que o filme se desenrola, vai nascendo um romance de amor entre os dois, mais forte da parte de Júlio, que ciumento, sentindo-se numa atmosfera estranha e hostil, desconfia permanentemente de Ilda, facto que a leva a romper o namoro. Num momento de cólera, impulsivo, Júlio acaba por matá-la.
Esta cópia corresponde ao restauro digital de “Os Verdes Anos” feito a partir de uma nova matriz de resolução 2K produzida ainda em vida do Realizador e por iniciativa deste.
O material de imagem transcrito foi o negativo de imagem de 35mm, no qual foram enxertados alguns planos que tinham sido cortados por motivo de censura, neste caso obtidos numa cópia de 16mm tirada originalmente por iniciativa do Realizador para divulgação no Japão.
A versão final com inclusão destes excertos obedece à montagem da versão que tinha sido restaurada analogicamente no laboratório da Cinemateca Portuguesa em 2006, aprovada pelo Realizador.
O som foi restaurado digitalmente tomando como referência a mistura final do negativo de som óptico mas recuperando também bandas magnéticas parciais de som ambiente e música.
Prosseguindo a colaboração inicialmente prestada a Paulo Rocha, as várias etapas do restauro tiveram a supervisão do Realizador Pedro Costa.