A Grande Vaga de Frio
"Os temas propostos por Virginia Woolf em Orlando têm sido bastante abordados no teatro e no cinema. Desde o filme de Sally Potter (1992) com Tilda Swinton, à encenação de Bob Wilson (1989 – 1993 – 1996) com Jutta Lampe, Isabelle Huppert, Miranda Richardson, e, em termos nacionais, à recente criação cénica de Sara Carinhas e Victor Hugo Pontes (2015) com interpretação de Sara Carinhas, são muitas as leituras possíveis do romance publicado em 1928. Se destaco neste contexto o nome das intérpretes é porque para fazer Orlando é sempre necessário uma (ou um) grande intérprete. Poder voltar a trabalhar com uma grande intérprete foi o que me motivou para fazer Orlando. E só isso já é, por si, uma bela justificação. O teatro faz-se de prazeres, e, também, de desafios, e sabemos que Orlando encerra vastas questões que suscitam apetecíveis abordagens: o tempo, a realidade e a ficção, a questão do género, a questão transgénero, a emancipação da mulher, a crítica a uma certa literatura inglesa, a censura ao puritanismo vitoriano, etc., etc. Para nós A Grande Vaga de Frio é tudo isto e, também, o gosto de poder construir um espectáculo de teatro na expectativa de que o público nele se encontre e dele se aproprie.
Durante o trabalho que fizémos até aqui chegar fomos constatando que A Grande Vaga de Frio se autonomizava de Orlando. E isso era bom de verificar. A dramaturgia de Luísa Costa Gomes emancipava-se e acrescentava ao(s) tema(s) novas possibilidades. A descoberta das mesmas durante o processo de ensaios constitui o prazer de que vos falo. Todos sabemos de que trata Orlando. A Grande Vaga de Frio trata de tudo isso e, também, daquilo que lhe fomos acrescentando. E é esta a nossa maneira de ser Orlando."
Carlos Pimenta (O autor escreve segundo a antiga ortografia)
Fonte: CCB
Tradução Ana Luísa Faria, ed. Relógio D’Água
Dramaturgia Luísa Costa Gomes
Conceção e direção Carlos Pimenta
Música original Ricardo Pinto
Figurinos Bernardo Monteiro
Vídeo João Pedro Fonseca
Desenho de luz Rui Monteiro
Espaço cénico Carlos Pimenta e João Pedro Fonseca
Assis. Encenação e produção Génesis Abigail
Interpretação Emília Silvestre