No Fundo Portugal é Mar
No CCB – De 8 maio a 31 julho, 2018
"Ele é o fundo, os peixes, a vida, as ondas, os vulcões, a solidão e o espaço imenso. Ele é também o covil de abjeções inconfessáveis e de maravilhas ondulantes; de mistérios e abusos, descobertas e ganâncias, e de todos os possíveis para além dos impossíveis. Ele é o mais frágil, imenso e desconhecido dos comuns da humanidade. Nada em Portugal escapa ao mar. Distantes mas fascinados pelo mar, desejosos e ressentidos dele ao mesmo tempo, agora vamos passar a tê-lo em nós de outro modo, mais vasto e mais exigente.
Esta programação fala-nos disso. Dessa mudança e das exigências que ela faz a uma cidadania culta e ativa para o mar. Ela é um apelo aos arredios terrestres deste país, que terão de cuidar dele, de se continuar com ele, de se descobrir nele.
Esta programação é um convite ao mar, lançado aos públicos de todas as infâncias que queiram mergulhar nestas propostas artísticas, mas também científicas e ambientais. Um convite por onde se gere entusiasmo e curiosidade, cultura marítima de agora e do futuro, e um novo empenho ativo e emotivo sobre o mar maior que irá ser.
Esta programação gira em torno da exposição No Fundo Portugal é Mar. Com base em imagens cedidas pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), captadas por um ROV, um robô telecomandado que desce a seis mil metros de profundidade, deslocamo-nos entre a revelação dos fundos marinhos, as paisagens sonoras onde terra e mar, através dos faróis, experimentam a sua comunicação e o imenso paradoxo do lixo plástico que o mar nos devolve. Os sentidos desta exposição desdobram-se em oficinas exploratórias, nas quais queremos passar do assistir ao fazer, ou seja, conhecer melhor e crescer com isso. São seis oficinas, que passam pela escrita criativa, pelo confronto com monstros imaginários e reais, pelas formas líquidas das esculturas marinhas, pela simetria abissal entre o mar e o cosmos até ao confronto fascinante e fatal com a imensidão dos plásticos que lançamos nos oceanos e que tomam agora conta dele e do nosso próprio corpo, condenando-nos a todos ao destino do esqueleto da baleia Balaena plasticus, integrada no projeto Plasticus maritimus. No Jardim das Oliveiras decorrerão três concertos, sessões com contadores de histórias e longas conversas marinhas entre tão improváveis interlocutores quanto variada é a fauna humana que entre nós vive o mar.
Por fim, dois espetáculos desafiam-nos em sentidos diametralmente opostos nas nossas mais fundas convicções e nos nossos mais fundos sentimentos sobre o mar: Marinho experimenta tudo aquilo que em nós vive e evita, procura e foge na relação com o mar, explorando as ambiguidades através dos caminhos onde elas se vivem, nos nossos sentidos, na voz e na escuta, na luz e na sombra. O segundo espetáculo, um dos mais transversais clássicos sobre o mar, A Menina do Mar, de Sophia de Mello Breyner Andresen, a partir da música de Bernardo Sassetti, lembra-nos que a beleza e o amor, a terra e o mar vivem na cidade dos homens, na sua história, nas forças políticas que se afrontam, e que o futuro é uma escolha que está para ser feita, tal como um rumo, um horizonte, uma nave largada no mar."