Utilizando um repertório superior a 1000 canções, Woody Allen vai escolhendo durante o concerto os temas que se sente inspirado a tocar, respeitando um atributo primordial do jazz que é o improviso. Com a ajuda de Eddy Davis, que toca banjo e é director musical da New Orleans Jazz Band, Woody Allen desafia o colectivo de músicos em palco e o público a acompanharem-no numa jam digna de um club de jazz nova-iorquino – como o The Carlyle, em Manhattan, onde tocam, desde 1996.
Trata-se de uma oportunidade única de ver o Coliseu dos Recreios, uma das mais emblemáticas salas do país, transformada num club de jazz de grandes dimensões, sem o fumo e o charme de uma certa decadência própria dos clubs, é certo, mas com tudo o que o público merece: músicos de enorme rigor técnico (o jazz não é para meninos), a improvisar e a divertirem-se como se não houvesse amanhã. De facto, a energia com que Woody Allen se entrega aos concertos, com os seus mais de 80 anos, confirma a correlação, cada vez mais evidente, entre a música e a eterna juventude – algo comum a muitos músicos. E depois, a seriedade com que Woody Allen encara um concerto, por oposição à sublimação da neurose através do humor que colectivamente lhe devemos, enquanto realizador, e que nunca lhe conseguiremos agradecer o suficiente.
A música é um elemento constante na obra cinematográfica de Woody Allen, em particular o jazz, que o acompanha desde a infância. O tributo aos grandes mestres que o marcaram passa pela inclusão de temas de lendas como Sidney Bechet, George Lewis, Johnny Dodds, Jimmie Noone e, é claro, Louis Armstrong.
A Woody Allen no clarinete e Eddy Davis no banjo, juntam-se Conal Fowkes no piano, Simon Wettenhall no trompete, Jerry Zigmont no trombone, John Gill na bateria e Greg Cohen no baixo.