Em tons dramáticos ou através dos artifícios da comédia, a Casa Branca é um cenário “ideal”, frequentemente revisitado por filmes e séries televisivas (ou, agora, nas plataformas de “streaming”). Aí estão duas dessas séries — “Dia Zero” e “A Residência” —, ambas com o selo da Netflix, a provar o assunto não está gasto. A primeira tem como figura central um ex-Presidente, interpretado por Robert De Niro, encarregado de investigar um ciber-ataque com terríveis consequências práticas e políticas; na segunda, deparamos com uma detective francamente pouco típica (Uzu Aduba) que, num universo pontuado por um humor desconcertante, tenta deslindar o caso de um assassinato durante um jantar de grande importância política.
Não será surpresa recordar que os Presidentes norte-americanos surgiram, desde muito cedo, como personagens cinematográficas. Para nos ficarmos pelo exemplo de Abraham Lincoln, lembremos o retrato biográfico que dele fez David W. Griffith (“Abraham Lincoln”, 1930) ou a sua memória, ainda apenas como advogado, assinada por John Ford (“Young Mr. Lincoln/A Grande Esperança”, 1939). Sem esquecer, claro, o “Lincoln” (2012) que Steven Spielberg concretizou, resistindo às sugestões dos que insistiam para que ele realizasse, não um filme, mas uma mini-série…
Seja como for, não esqueçamos que uma das ficções mais populares sobre a Casa Branca pertence à história da televisão: “The West Wing” (1999-2006), série criada por Aaron Sorkin, centrada, justamente, na actividade da “Ala Oeste”.
Em torno de um presidente fictício, Josiah Bartlet, interpretado por Martin Sheen, somos levados a descobrir o frenesim de um grupo de personagens a lidar com as mais diversas situações de crise — há qualquer coisa de claustrofóbico naquele cenário, ainda que a série nos faça sentir as muitas repercussões exteriores do poder que ali se concentra.
“The West Wing” recebeu entre nós o título “Os Homens do Presidente”, afinal “roubado” a um filme, realizado em 1976 por Alan J. Pakula. Neste caso, evocava-se a destituição de Richard Nixon, em 1974, na sequência das repercussões do escândalo Watergate. Em boa verdade, as personagens principais são Bob Woodward e Carl Bernstein (interpretados, respectivamente, por Robert Redford e Dustin Hoffman), os jornalistas de “The Washington Post” que investigaram o caso, acabando por acumular provas irrefutáveis sobre o envolvimento de diversos elementos da Casa Branca na invasão, em 1972, dos escritórios no Comité Nacional Democrata no edifício Watergate, em Washington.
Na galeria dos muitos títulos que já encenaram os mais diversos aspectos da presidência norte-americana, o realizador Oliver Stone ocupa um lugar de destaque, desde logo por causa do seu “JFK” (1991), não exactamente sobre John F. Kennedy como Presidente, antes centrando-se na investigação do seu assassinato, trabalho conduzido pelo procurador Jim Garrison (Kevin Costner). Com assinatura de Stone, são também “Nixon” (1995) e “W.” (2008), este sobre George W. Bush — os actores principais são, respectivamente, Anthony Hopkins e Josh Brolin.
A provar que o tema está longe do esgotamento, vale a pena lembrar que, em 2024, surgiu “The Apprentice – A História de Trump”, de Ali Abbasi, um retrato de Donald Trump, não enquanto Presidente, mas sim nos nas décadas de 1970/80, quando começava a investir na construção imobiliária. Não é, obviamente, um filme sobre a Casa Branca, mas as subtilezas da sua visão justificam que o associemos a estas memórias.
Ainda que com uma carreira discreta nos mercados, “The Apprentice” obteve alguma repercussão mediática, iniciada na competição do Festival de Cannes do ano passado. Além do mais, Sebastian Stan, intérprete de Trump, e Jeremy Strong, compondo a figura do advogado Roy Cohn, chegaram aos Óscares — foram nomeados, respectivamente, nas categorias de melhor actor e melhor actor secundário.