A MONSTRA, Festival de Animação de Lisboa, regressa para a sua 22.ª edição. Entre 15 e 26 março, o Cinema São Jorge, a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, a Cinemateca Júnior, o Cinema City Alvalade e o UCI El Corte Inglés celebram o cinema de animação. Além de Ice Merchants, a curta-metragem de João Gonzalez que se tornou o primeiro filme português nomeado para um Óscar, a animação japonesa é o grande destaque desta edição. O programa completo de filmes pode ser consultado no site oficial da MONSTRA.
Além de ser uma oportunidade para partilhar a riqueza e a diversidade da animação japonesa, esta é também uma homenagem simbólica para assinalar os 480 anos da chegada dos primeiros portugueses (e os primeiros ocidentais) ao Japão, como explicado por Fernando Galrito e Miguel Pires de Matos, responsáveis pela programação do festival.
O cartaz e o spot promocional são a condizer, já que são da autoria de Koji Yamamura, que será também um dos grandes convidados do festival e que terá uma exposição no Museu do Oriente, Dezenas de Desenhos, dedicada aos seus filmes. Venceu o prémio especial do júri da Monstra no ano passado e vai ainda dar uma masterclasse à volta do seu trabalho. A Lisboa virá também Sanae Yamamura, colaboradora dos filmes do realizador.
E do país convidado a MONSTRA vai exibir quase cem filmes, entre 79 curtas e 16 longas metragens, e 60 destes filmes são inéditos em Portugal. Ainda vão acontecer duas estreias a nível mundial: são filmes feitos expressamente para o festival, e um deles terá banda sonora cantada ao vivo. A MONSTRA vai receber em antestreia o aguardado Inu-Oh, de Masaaki Yuasa.
Para celebrar a animação japonesa estarão também presentes Maya Yonesho, jovem realizadora com um olhar experimental no cinema de animação e que vai dar um workshop, e o crítico e historiador de cinema Ilan Nguyen.
Falar da animação japonesa é também recordar o seu vasto património, entre os autores mais conhecidos (como Satoshi Kon, Hayao Miyazaki, Isao Takahata, Osamu Tezuka e Katsuhiro Otomo) ao “casal fundamental do cinema japonês”, nas palavras de Fernando Galrito, Renzo e Sayoko Kinoshita, passando ainda por Michaël Dudok de Wit, o único ocidental a trabalhar com os estúdios Ghibli com o filme “A Tartaruga Vermelha”, e que vai estar no festival para uma masterclass. Há também espaço para olhar o futuro da animação japonesa com sessões de curtas-metragens universitárias.
Fernando Galrito destacou que a MONSTRA tem como objetivo “trazer sempre obras de grande importância cinematográfica” e que “é o festival português que passa mais filmes”. Mas é mais do que um festival dedicado ao cinema de animação: é também “um encontro de culturas” que nos traz “muitos países e olhares diferentes” e alguns “transgressores, porque sem transgressão não há criação”. Para este ano vão ser projetados 423 filmes em mais de duzentas sessões espalhadas pelo Cinema São Jorge, a Cinemateca Portuguesa, o Cinema City Alvalade e, pela primeira vez, os cinemas UCI. Há ainda as habituais retrospetivas e sessões especiais, masterclasses e a Monstrinha, que já conta com mais de 12 mil inscrições e que vai voltar a trazer o cinema para os mais novos, dos bebés e das crianças em idade pré-escolar, passando também do 1.º ao 12.º ano de escolaridade.
A competição de longas metragens contém duas animações portuguesas Os Demónios do Meu Avô, de Nuno Beato, e Nayola, de José Miguel Ribeiro, e um filme com participação nacional na sua produção: “Interdito a Cães e Italianos”, de Alain Unghetto, uma co-produção entre vários países. Ainda em destaque nesta competição estão os regressos de Ale Abreu, vencedor da Monstra com O Menino e o Mundo e que vai apresentar Perlimps, Signe Baumane com My Love Affair With Marriage e Alberto Vasquez com Unicorn Wars. Todos os realizadores estarão presentes no festival, estando Ale Abreu ainda por confirmar.
Nas competições inscreveram-se mais de 2600 filmes de 105 países e foram selecionadas 221 curtas e 10 longas, representando 50 países. A competição de curtas portuguesas teve perto de uma centena de submissões, no ano em que a nomeação ao Oscar nessa categoria teve representação portuguesa (Ice Merchants de João Gonzalez, que estará no festival). Miguel Pires de Matos salientou que esta distinção é mais uma prova do contínuo sucesso do cinema de animação português no estrangeiro, acumulando “mais de quatrocentos prémios em festivais de todo o mundo”.
Vale a pena ainda salientar o regresso das secções DokAnim, com documentários sobre o universo da animação, e Triple X MONSTRA, com propostas de animação que se ligam com o erotismo, onde serão apresentados dois filmes do tríptico Animerama de Osamu Tezuka. E no ano do centenário do cinema de animação português, a sua História vai ser salientada nesta MONSTRA, que está também a organizar sessões mensais dedicadas ao património da animação nacional na Cinemateca Portuguesa. Ainda se vão assinalar os 100 anos da primeira curta-metragem de Walt Disney, recordar a animação checa com Jiří Trnka e Jan Švankmajer, e vai ser apresentado um projeto especial: Winter Days de Kihachirō Kawamoto, que convidou 15 grandes mestres a fazerem haikus para este filme. A CPLP marca presença com 6 longas e 7 curtas, haverá espaço para conhecer o melhor o festival Punto y Raya, dedicado ao cinema abstrato, e os trabalhos das universidades Nafta de Sófia, que comemora 75 anos, e a Knutct de Kiev, para além das universidades japonesas já mencionadas. A MONSTRA vai marcar presença com estes filmes de estudantes em 20 universidades portuguesas.
Para terminar, nota para as outras exposições associadas ao festival: no Museu da Marioneta: Marionetas que Guardam o Tempo, uma viagem ao mundo das marionetas da animação portuguesa; na Sociedade Nacional de Belas Artes a exposição de Raimund Krumme, Traços de Movimento, que vai contar com a presença do próprio que vai desenhar nas paredes do espaço; uma oportunidade para ver cartazes em realidade aumentada; e uma exposição dos 100 anos do cinema de animação português na Cinemateca.