A administração Trump acaba de proibir, nas bibliotecas e escolas públicas mantidas pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, um livro infantil escrito por Julianne Moore, a actriz de “O Quarto ao Lado”.
O ataque desferido pelo Departamento de Defesa visa um livro quase autobiográfico: a história de uma menina de sete anos que não gosta das próprias sardas.
Julianne Moore escreveu o livro para os filhos, tomando as sardas como um sinal de diferença que não deve ser excludente. Imaginai um livro que Trump ousasse escrever para crianças. Talvez contasse a história de um rapaz que usava um castor a fazer de cabelo antes de usar um boné e que desejava expulsar do bairro todos os rapazes que não fossem loiros.
A autora, filha de um veterano da guerra do Vietnam, estudou numa escola do Departamento de Defesa. Também por isso, não esconde a estupefacção. As palavras com que manifestou a sua incredulidade poderiam iniciar um novo ensaio sobre a cegueira.
Estará em preparação, na grande ágora da liberdade de expressão, uma lista de livros malditos, lombadas alinhadas pelo Grande Censor, retomando o clima persecutório do início do século passado, quando obras de Miller, de Ginsberg ou de Ferlinghetti foram proibidas? Isso não é bonito, América.
Quem ditará a nova linha editorial? Elon Musk apoiado nos palpites do filho X, numa sessão de trabalho na sala oval? Musk e os seus livros sem motor, o filho às cavalitas ou fazendo o pino na alcatifa do avô Trump, pim pam pum cada história mata um?
O menino Trump salta da história soletrada pelo menino X, escondem-se atrás do arbusto do Livro do Êxodo, soletrando sarça, sarda, dedos em riste, expulsando, proibindo, quem não for loiro e não usar boné não brinca.