Causa, pelo menos, estranheza a notícia de há poucos dias na Voz da Galiza: seis em cada dez concelhos da província de Lugo têm mais carros do que pessoas. Um habitante de um desses municípios disse ao jornalista: “Aqui não se pode viver sem carro. Na nossa casa somos três pessoas e temos cinco automóveis”.
No caderno onde guardo estes dados, estico a corda da perplexidade: chegará o dia em que os cemitérios de automóveis terão mais uso do que os tanatórios?
Tenho vindo a anotar tópicos para eventuais histórias de aldeias, nestes tempos em que elas se vão esvaziando de gente. Está no jornal La Razon: Herreruela de Oropesa, um pueblo perto de Toledo, procura vecinos, moradores, aos quais oferece trabalho e casa com renda quase simbólica de 170 euros. Está no El Español: “Procuram-se moradores em Ribera de Castilla, perto de Palencia. O município oferece oportunidades de trabalho e casa com renda na ordem dos 300 euros”. É uma pequena amostra, de ontem para hoje. Tem menos de uma semana a notícia que colhi no Diário de Navarra dando conta de que os habitantes de Zúñiga podem ir, cinquenta anos depois, ao único bar da aldeia que acaba de ser reaberto. Ao promover a reabertura de um lugar de encontro dos vizinhos, o município cria também um posto de trabalho para uma jovem da aldeia.
Há notícias que afastam as nuvens mais pesadas para longe das aldeias. Esta é de domingo no ABC: Totanés, uma aldeia de montanha perto de Toledo, acordou com dezenas de renas, coelhos e caracóis de grandes dimensões, talhados em madeira, espalhados não se sabe por quem nas ruas e nos jardins. Os pouco mais de 300 habitantes não escondem a surpresa e o contentamento.
No El País de hoje, vem o caso de Mogón, uma povoação de 800 habitantes, abraçada pelos rios Aguascebas e Guadalquivir, à entrada da serra de Las Villas. O jornal puxa para título a circunstância de este ser um pueblo com mais cooperativistas que vecinos.
Mogón é terra de produtores de azeite e os sócios da cooperativa local, nesta aldeia de 800 habitantes, são 1300.
Repito a fórmula encontrada para o título da notícia: mais cooperativistas que vizinhos. A palavra vizinho parece a chave do problema. Na verdade, vizinho tem uma carga que não existe em morador ou habitante. Um vizinho é um morador cooperativista. É um morador de janela aberta.