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Imagem de Os Dias que Correm

Os Dias que Correm

Fernando Alves | 30 jan, 2025, 08:58

Na praia da Ponta dos Corvos

A rubrica diária de Fernando Alves nas manhãs da Antena 1, para ouvir e ler.

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Fernando Alves | 30 jan, 2025, 08:58

Na praia da Ponta dos Corvos

A rubrica diária de Fernando Alves nas manhãs da Antena 1, para ouvir e ler.

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Os Dias que Correm

O que guardamos dos dias. O que passando, fica. Fernando Alves na Antena 1.

Ver Programa

Num poema de “Desobediência”, de Eduardo Pitta: “Está um rapaz a arder/ em cima do muro, / as mãos apaziguadas. / Arde indiferente à neve que o encharca”.

No poema “O amor em visita”, em que Herberto Helder pede “uma jovem mulher em sua harpa de sombra”: “Seu corpo arderá para mim sobre um lençol mordido por flores com água”.

Num poema de Alice Ruiz: “Teu corpo seja brasa / e o meu a casa / que se consome no fogo”.

Noutro, de Manuel Bandeira: “Ardo em desejo, na tarde que arde! / Oh, como é belo dentro de mim / teu corpo de ouro no fim da tarde; /teu corpo que arde dentro de mim / que ardo contigo no fim da tarde”.

Os corpos ardem devagar nos poemas, ardem no espelho das páginas onde os guardamos como píxides num sacrário. As palavras estendem para nós as suas línguas de fogo, ardem a cada nova leitura, podemos ser devorados nessa combustão.

Numa página interior do JN, vem esta manhã a notícia de um cadáver a arder encontrado num contentor de lixo, na praia da Ponta dos Corvos, no Seixal.

Poderia ser o início de um romance de José Cardoso Pires. Um cadáver ainda em chamas quando foi encontrado, manhã cedo. Tão em chamas que a polícia marítima não pôde perceber se se tratava de homem ou de mulher, carbonizado, em decomposição.

A notícia vem ilustrada com a foto do contentor, ela não pode dar-nos o que extravasa do relatório, não pode revelar-nos como se entrelaçaram nas chamas as suas mãos apaziguadas. Há uma vedação, alguma pouca relva, um vago arbusto, uma nesga de mar. Não pode a notícia dar-nos um lençol mordido por flores com água.

Há uns dois anos, ardeu a igreja de Palermo onde repousava o corpo incorrupto de São Benedito, o Negro, assim chamado por se acreditar que teria nascido na Sicília, filho de escravos etíopes. Muito jovem, decidira viver com eremitas franciscanos, tendo feito um voto de pobreza. Caminhava descalço pelas ruas, dormia sem manta ou lençol, no chão, como a casa que se consome no fogo.

Um jornal do Vaticano contava que apenas alguns fragmentos de ossos do santo se salvaram. Relíquias, lhe chamaram. Não será essa a designação do que possa ser recolhido no contentor do lixo na praia da Ponta dos Corvos. A notícia do JN, esta manhã, não dá pretexto a que vislumbremos um rapaz a arder, em cima do muro.

Texto e programa de Fernando Alves
Os Dias que Correm

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