O Vox, partido da extrema-direita espanhola, vai propor esta tarde, durante o plenário do Ayuntamiento de Madrid, que os menas, como são designados os menores estrangeiros não acompanhados, recebidos no centro de acolhimento de Hortaleza, na capital, não possam sentar-se nas paragens de autocarro. Num dos parágrafos da notícia do La Vanguardia, a formulação ganha um sentido não menos brutal, mas ao qual uma tradução trôpega pode temperar com uma sonoridade ambígua, pois reclama que os jovens acolhidos em Hortaleza sejam proibidos de estar nas paragens de autocarro da zona, não possam utilizar “la marquesina”. Vai dar ao mesmo, marquesina é outra maneira de dizer paragem de autocarro e traduções abusivas, por mais pícaras, não são aceitáveis, nem à vox populi, quanto mais aos beleguins portugas de Abascal.
La Vanguardia transcreve os argumentos do Vox para a apresentação desta proposta, tão reles, que nem sequer reclama a dignidade de uma Rosa Parks: “os menas molestam e intimidam os vizinhos”.
Está no ponto 17 da Ordem do Dia o articulado do ódio, agitando um alegado crescendo de insegurança e de intimidação. Os do Vox sacodem um lencinho perfumado: os menas entopem de lixo las marquesinas. Leio a incomodidade dos ultras no ecrã de um telemóvel, enquanto sou transportado num autocarro da Carris. No banco ao lado, uma jovem loira, por certo de boas famílias, não tarda eleitora de uma agremiação similar, instala-se pousando as botifarras no banco da frente. E assim vai, Lisboa adentro, com o seu ar de marquesinha, as patorras pousadas no banco da frente, o banco de nós todos, na casa rolante de nós todos, espaço tão público como uma paragem de autocarro. Reina a paz ululante dos autocarros, como será o porte da marquesinha no banco da paragem?
Um porta-voz da agremiação espanhola que acaba de pressentir “um vento de mudança no Ocidente” associado à fresca brisa trumpiana, garante ao repórter de La Vanguardia que “os menas estão totalmente descontrolados” e se entregam a actos de vandalismo do mobiliário urbano.
A proposta da rapaziada de Abascal é um chavascal de mete-nojice.
Não tarda, teremos um capataz da mete-nojice cá do burgo repetindo um ponto 17 da Ordem do Dia municipal. E talvez não haja um Almada para gritar, em voz que se oiça, que tal capataz “cheira mal dos pés”. E a verdade é que nenhum desleixo com marquesinas alcança a sujidade do preconceito racial. E a verdade é que os comparsas de Abascal ajavardam a política, mesmo se andaram na escola e terminaram com distinção os seus cursos superiores de baixeza.