Não é provável que a designação húbris, ontem usada por Durão Barroso durante um Seminário Diplomático, venha a ser considerada palavra do ano de 2025. Não há, na prédica corrente dos titulares de cargos públicos ou no noticiário avulso, uma suficiente reminiscência grega ou sequer a arrogância estilística – Barroso teria dito “a húbris estilística” – que possa colocar na gíria, na tituleira, no jargão dos debates, a palavra com a qual o antigo presidente da Comissão Europeia causticou a arrogância que leva, no seu entender, os grandes poderes a pensar que conseguem fazer a paz. A carapuça há-de servir a Trump, cuja capacidade para pôr fim à guerra na Ucrânia foi seriamente posta em causa por Barroso. Há-de servir a Trump a carapuça, tantas são as vezes em que ele se apresenta de boné.
Ontem, em Lisboa, o antigo governante esticou a corda da húbris alheia com uma pergunta retórica: se os tais poderosos arrogantes conseguem impor a paz “porque é que não fizeram isso em relação ao Médio Oriente?”.
A pergunta é pertinente. Acresce que, nesta matéria, Durão fala de cátedra: todos nos lembramos de um certo Março de 2003 em que o primeiro ministro de Portugal fez, nas Lajes, as honras da casa à húbris bélica de George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar.
A vida dá muitas voltas. Para não fugirmos aos gregos, lembremos Xenofonte, filósofo e general de Atenas que se deixou seduzir pelos espartanos no final da guerra do Peloponeso, após uma consulta ao oráculo.
Barroso libertou-se de velhas amarras da política e tem vindo a fazer dessa circunstância o seu cavalo retórico. Isso lhe permitiu confrontar os que o escutaram ontem em Lisboa com uma alegada e crescente “sinceridade”. Há nessa húbris indulgente um quase enternecimento.
Pudesse Durão, do alto da cátedra, repetir Tales de Mileto e prever um eclipse total do sol capaz de pôr fim a uma guerra em curso…
Mas a cátedra de onde nos fala é apenas um cadeirão ocupando meia capa do DN de hoje.