Vem contado no DN de hoje: um menor de 13 anos esteve envolvido nos actos de violência desencadeados por um grupo de extrema-direita na tarde deste 25 de Abril no Rossio. O rapaz não foi apanhado nos tumultos, estava com aqueles que os provocaram, com os organizadores de uma manifestação não autorizada. Fazia parte da cena.
A polícia identificou o rapaz como um dos agressores de manifestantes que celebravam o 25 de Abril. Um dos que molhou a sopa. É um dos oito identificados. Não se escapou, indefeso, da mão de pai ou de amigo mais velho que, imprudentemente, o tenha levado a ver a porrada que talvez lá viesse. Foi levado para o que desse e viesse.
Imaginai um menino que é levado ao circo, não para ver a arte dos contorcionistas ou dos malabaristas, mas para soltar as feras. Imaginai o adulto que o acompanha dizendo-lhe: “mostra-nos a fera que és”. Neste caso, a fera não precisa de incitamento.
Como lembra o texto do DN, assinado por Amanda Lima e Valentina Marcelino, a presença activa de jovens como este em acções semelhantes confirma o alerta do Relatório Anual de Segurança Interna do ano passado: as plataformas on-line têm vindo a aliciar e a recrutar “indivíduos cada vez mais jovens, muitos deles com idades inferiores a 16 anos” para acções deste tipo.
Agora, ao analisar as imagens dos incidentes provocados pela turba de extrema-direita no Rossio, a polícia identificou cabalmente o menor de 13 anos que, em vários momentos, surge a pontapear contra-manifestantes. Tal como identificou um conhecido activista de extrema-direita que surge, infiltrado entre os que defendiam o 25 de Abril, gritando palavras de ordem enganadoramente desafinadas com a sua tribo.
Também a minhoca se infiltra na maçã, como avisa uma canção com mais de 13 anos.
Outra canção, na voz de Amália, deu vento aos versos que António Feliciano de Castilho escreveu aos 42: “Já tenho 13 anos / que os fiz por Janeiro. / Madrinha casai-me / com Pedro Gaiteiro”.
No dia em que fez 13 anos, precisamente 13 anos, era 12 de junho de 1942, Anne Frank recebeu, como prenda, um diário no qual escreveria um doloroso testemunho durante os dois anos em que permaneceu escondida num anexo em Amsterdão.
13 anos é a idade do rapaz que matou uma colega de escola na série televisiva britânica que obteve recentemente um êxito retumbante.
Que guardará, para memória futura, da tarde tumultuosa do Rossio, o rapaz de 13 anos que o pai levou à porrada aos do 25 de Abril?