Uma empresa europeia que organiza viagens surpresa colheu de 250 mil clientes, portugueses, espanhóis, italianos, ingleses e franceses, a lista dos 10 monumentos mais decepcionantes surgidos nos roteiros turísticos. Nem sempre são claras as razões para a decepção. Nuns casos, o turista sente-se defraudado pela dimensão do monumento ou do quadro famosos, não cuidando de encontrar explicações para o facto de, no seu critério, tamanho ser documento. O menino de bronze que urina água, por certo potável, numa fonte de Bruxelas, está associado a uma longa história de peripécias, historicamente relevantes, as quais, estranhamente, nem sempre satisfazem a curiosidade do turista. Essa longa história justifica o orgulho do povo de Bruxelas na figura que aos olhos do turista apressado não passa de uma minudência nua em bronze. Há, todavia, uma surpreendentemente longa lista de fatos com que semanalmente o menino é vestido. Fatos mesmo, não factos. Bem sei que a precisão é escusada, dada a ressalva da dupla grafia. Tomai a precisão como um adorno na lapela de um dos casaquinhos do menino que faz xixi de frente para os turistas e para a História. Na verdade, o rapaz que urina na fonte de Bruxelas tem mais fatos do que o Menino Jesus da Cartolinha. E se a pressa do turista não lhe cortar o prazer da descoberta, eles podem ser vistos no museu da cidade.
Stonehenge é outra das mais frequentes desilusões dos turistas, a crer na lista que encontrei no jornal digital expansion.com. Motivo invocado pela maioria dos desiludidos: gasta-se um dia inteiro para ir e vir. Mas, que raio, onde deixou o turista desiludido a capacidade de espanto, a curiosidade diante do enigma da pedra?
A lista das dez desilusões inclui as Ramblas. A notícia aflora o enfado dos turistas com o que designam como um corredor de cimento e pombas. Não terão tido tempo para seguir o olhar do Lorca sobre a rua “onde vivem, ao mesmo tempo, as quatro estações”, a única rua da terra que o andaluz desejou que “não acabasse nunca”, com os seus tantos sons e as suas tantas brisas.
Claro que no top ten da desilusão dos turistas contemplados nesta sondagem, está a Mona Lisa. Motivo? É uma seca, dizem, gastar meio dia para ir ao Louvre e ver a Mona Lisa de longe, por entre um mar de cabeças de visitantes que a fotografam. Quantos desses visitantes que fotografam o quadro sem o contemplar, sem lhe procurar o enigma, terão ajudado a definir este top ten?
O que distingue o olhar daquele que tudo fará para chegar mais perto do mistério de um sorriso daquele outro que apenas se demora os instantes necessários para registar num aifónix o carimbo de presença, consultável com melhor proveito e nitidez num catálogo de arte?
Paul Theroux – que sabia muito de viagens – vincou, como poucos, a diferença, nem sequer subtil, entre um turista e um viajante: “Os turistas”, disse ele, “não sabem, muitas vezes, onde estiveram. Os viajantes não sabem para onde vão”.