Procuro no jornal mexicano El Universal a explicação local para o adiamento das taxas comerciais anunciadas por Trump. Mario Maldonado, jornalista especializado em economia e mercados, dá grande parte dos créditos à pressão das associações empresariais norte-americanas e de vários governadores junto de Trump e sublinha uma circunstância prosaica: não obstante o estilo “arrebatado e irracional”, Trump “não come lume”.
Se o caso permitisse uma abordagem estritamente circense, poderíamos dizer que o cospe-fogo não come lume. Mas a maioria dos analistas concorda num ponto: houve cedências a Trump e só elas explicam este compasso de espera.
Maldonado acredita que Trump acusou o toque de críticas como a de um editorial do Wall Street Journal em que a declaração de guerra tarifária ao México e ao Canadá é considerada “a mais estúpida da História”. Mas conclui que o México apenas “ganhou tempo e ferramentas para a negociação”, num calendário demasiado curto para apresentar resultados nas áreas da Segurança e do fluxo migratório, prevendo que rolem cabeças nesses departamentos governamentais.
O jornal dá grande destaque à actividade suspeita de um avião da Força Aérea dos Estados Unidos que sobrevoou águas internacionais a 80 km a sudoeste do Cabo de São Lucas. Trata-se de um aparelho que recolhe informação muito detalhada em pleno voo. Mas o que no meu voo rasante e ensonado conquista a maior atenção é a lista dos 25 produtos norte-americanos mais importados pelo México. À cabeça da lista validada pelo governo mexicano estão as peças para automóveis, tractores, reboques e semi-reboques, gás, telefones móveis, produtos químicos, equipamentos médicos, produtos em madeira, metais preciosos, armas, vaselina (não necessariamente para lubrificar as armas) e, para estranheza de muitos, calçado e sombreros.
Mexicanos importam sombreros dos Estados Unidos? Cuido que a palavra tenha no contexto local aba mais larga do que aquela que retemos da velha iconografia do western. E se aplique a todo o tipo de chapéus, cartolas incluídas.
E mesmo que o sobressalto breve me faça mergulhar, nostálgico, numa novela de Juan Rulfo, não descarto, tal como o analista de El Universal, a possibilidade de estarem os mexicanos condenados a apanhar bonés de Trump. Sombreros há muitos…