Três activistas da Greenpeace entraram ontem no Museu Grévin, em Paris, e levaram, debaixo de um lençol, um sorridente Macron de cera para as imediações da embaixada russa. A acção teve ampla cobertura mediática e, a ter sido cumprida a promessa da direcção da Greenpeace, a estátua de cera regressou intacta ao lugar devido depois de exibida junto a cartazes que denunciavam a continuação de negócios franceses com a Rússia, enquanto a Ucrânia arde.
A operação da Greenpeace serviu para causticar a compra de gás e de fertilizantes russos e a estátua não derreteu. Macron não é Ícaro, a saída do labirinto europeu não vai lá com asas de cera. Possa o gesto da Greenpeace fertilizar uma discussão, só se magoam manequins.
Alguns ter-se-ão interrogado sobre os motivos que levaram os activistas a retirar do museu de cera um Macron de duas faces e não um Putin que pudesse derreter na via pública. Na verdade, tal missão seria condenada ao insucesso, dado que o director do museu procedeu à decapitação da estátua de Putin, entretanto retirada da colecção, logo após a invasão da Ucrânia. O museu Grévin não acolhe ditadores, explicou o director que, entretanto, mandou guardar a cabeça do presidente russo no armazém do museu.
A imagem de Macron tem andado em bolandas, por estes dias. Mas uma breve pesquisa permite perceber que esta não é uma acção inédita. Em 1980, um grupo de activistas de direita retirou do museu Grévin a estátua de Georges Marchais e lançou-a para o recinto dos ursos do Jardim Zoológico. Noutra ocasião, um grupo de motards roubou um Giscard d’Estaing de cera e passeou-o pela cidade de Paris instalado num side-car.
Os caricaturistas não perderam tempo. Emmanuel Chaunu, que assina cartoons no Ouest-France e no L’Union recriou a cena pondo o ministro do Interior Bruno Retailleau transportando às costas a estátua que pretende devolver ao museu Grévin. Mas a estátua de cera grita: “Bruno, sou eu, o verdadeiro”.
A verdade e a mentira, nas suas máscaras tão verosímeis, derretem por igual, no noticiário avulso, enquanto a Europa faz cera.