Quando O Principezinho chegou às prateleiras, a 6 de abril de 1943, a proposta pode ter parecido inócua. Assim o prometia a capa em tons de branco, turquesa e amarelo, vincada por uma criança e os astros ao seu redor, por baixo do título em letra cursiva.
Tratava-se de um livro infantil, sim, mas a história guardava uma maturidade diferente para o seu narrador: a capacidade de reflexão e de empatia que, por vezes, esperamos somente da idade adulta. Mas só um pequeno ser seria lúcido ao ponto de ver que aquele desenho não era um chapéu, mas sim um elefante devorado por uma jibóia…
Aguarelas e prosa eram ambas de Antoine de Saint-Exupéry, autor e aviador que lutou pela Resistência Francesa na Segunda Guerra Mundial. Alguns anos antes desse conflito, despenhou-se no deserto do Sara, entregue à desidratação, às miragens e às alucinações — esses dias, dos quais saiu como improvável sobrevivente, inspiraram o enredo d’O Principezinho, em que o narrador se perde no mesmo deserto, e encontra um profundo oásis nas palavras do protagonista. Palavras que são lições sobre amizade e amor, futilidade e solidão, egoísmo e perda.
Há oitenta anos que crianças e adultos sustêm este sucesso à escala global. É hoje um dos livros mais vendidos do mundo, somando mais de 45 milhões de exemplares — traduzidos em mais de 500 línguas e dialetos, tendo-se tornado a obra mais traduzida à exceção da Bíblia.
Ouça algumas passagens deste livro intemporal na tradução de Joana Morais Varela; ao longo desta quinta-feira, pode ouvi-las na Antena 1, na voz de Rui Alves de Sousa e Pedro Miguel Ribeiro, e já se encontram disponíveis abaixo.
“Só se vê bem com o coração”, escrevia Saint-Exupéry, “o essencial é invisível para os olhos” — mas é bem audível para os ouvidos.