Há canções que conquistam lugares de destaque na memória coletiva de um país. E a Tourada, com letra de José Carlos Ary dos Santos e música de Fernando Tordo, que também lhe deu voz, teve a sua estreia pública há precisamente 50 anos, na noite de 26 de fevereiro de 1973. Local? O Teatro Maria Matos, em Lisboa, que nessa noite acolhia a décima edição do Grande Prémio TV da Canção (como então era designado o Festival da Canção). Com seis milhões de portugueses nessa noite em frente à emissão da RTP, a canção levantou desde logo, para muitos, a surpresa de ali ter chegado, já que passara o crivo da censura que a poderia ter votado ao silêncio no processo de apuramento das concorrentes para o festival. Assim não aconteceu, tendo o próprio Fernando Tordo contado já que a canção terá sido entendida como uma sátira ao espetáculo tauromáquico quando, na verdade, para si e para o autor da letra, não era mais do que um olhar satírico sobre a sociedade portuguesa, usando as expressões e termos da tauromaquia como metáforas. E de facto não só a Tourada passou o lápis da censura como venceu X Grande Prémio TV da Canção e acabou mesmo a representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, obtendo aí o 10.º lugar.
A história pública da Tourada começa na noite de 26 de fevereiro de 1973 quando, apenas com quatro pontos de vantagem sobre a canção classificada em segundo lugar, se sagra vencedora do concurso local. Era uma das quatro canções com música de Fernando Tordo a concorrer esse ano, e uma das seis com letra de Ary dos Santos. O próprio Tordo cantou também Carta de Longe e, da sua parceria com Ary dos Santos, surgiram ainda Minha Senhora das Dores, interpretada por Luís Duarte, e Apenas o Meu Povo, que tanto o letrista como ele mesmo decidiram entregar a Simone de Oliveira, que nessa noite venceria o prémio de interpretação. Com letra de Ary dos Santos o festival apresentava ainda as canções Semente, por Paulo de Carvalho (e música de Fernando Guerra) e É Por Isso Que eu Vivo, com música e interpretação de Paco Bandeira, tendo-se classificado em segundo lugar.
Cinquenta anos depois a Antena 1 evoca esta data com uma emissão especial conduzida pela jornalista Maria Flor Pedroso, contando com as presenças de José Barata Moura, o jornalista Nuno Pacheco e do próprio Fernando Tordo. Ali se conta a história da canção, das palavras que Ary dos Santos levou à sua letra, o modo como passou o crivo da censura e o impacte que gerou no contexto em que nasceu.