Era o ano de 1998 e entravamos na contagem decrescente para a chegada de um novo milénio.
De França, recebíamos então uma das mais incríveis provas de como o futuro poderia juntar às heranças do passado uma visão sonora mais futurista. Os Air foram os portadores dessa linguagem pop feita para electrónicas elegantes, e que servia para cumprir o sonho de uma geração que cresceu a imaginar o ano 2000 como se tratasse de um filme de ficção científica.
“Moon Safari”, um disco que celebrou 25 anos em 2023, dá o mote para uma conversa de Herberto Quaresma com Nicolas Godin (Air), a poucos dias do concerto dos Air no festival Egeas Cooljazz, em Cascais. Ouça o episódio e leia alguns destaques abaixo.
Eu e o Jean-Benoît [Dunckel] acreditamos no que alcançámos. Não sabemos até chegarmos a esse ponto onde estamos nos nossos cinquentas… e todas as noites, quando vemos todo o burburinho, todas as criticas a um disco, que só agora começamos a entender o que conseguimos. (…) [Sinto-me] como se estivesse a viver a minha juventude uma segunda vez… o que é algo que poucas pessoas conseguem.
[A minha geração cresceu] com a ideia que no ano 2000 seríamos muito futuristas, com naves espaciais, fatos espaciais e armas de laser… E quando fizemos o álbum “Moon Safari”, percebemos que estávamos a entrar na idade adulta e nada do que nos foi “vendido” iria realmente acontecer. (…) E talvez a única coisa que aconteceria foi o Skype, em que podes falar com alguém através de um ecrã. (…) Mas tudo o resto não estava lá. Acho que “Moon Safari” foi uma forma de dizer adeus a esse sonho.
Portugal é um país que adoramos. Primeiro, porque há muitos portugueses em França. Quando era ainda uma criança, tinha muitos amigos portugueses. Recordo quando fizemos a primeira digressão em 1998 e lembro-me muito bem de Lisboa… É uma boa memória. A minha mulher, que é brasileira, tornou-me conhecedor de elementos da cultura e da língua portuguesa. Até sei falar em português com o meu cão porque a minha mulher também o faz…