Ana Sofia Carvalhêda conversou com José Salgueiro e José Peixoto.
Oiça aqui essa entrevista.
José Salgueiro
José Peixoto
4 Adufes gigantes. Em palco o projecto de José Salgueiro, ganha outras
dimensões. E foi isso que aconteceu, na apresentação, em Lisboa, no
Teatro de São Luiz.
A voz de Maria Berazarte e a guitarra de José Peixoto encantaram a plateia. Mas as percussões, foram de facto o fio condutor.
ADUF é um projecto de música portuguesa
onde o passado e o presente se fundem com originalidade, onde a música não tem
idade e a sua juventude é permanente e universal. É com este espírito que se
apresentam e é esta a essência pura da música que querem deixar.
No ano de 2008 José Salgueiro convidou José
Peixoto para reformular e dar vida ao grupo Aduf, projecto que teve
como ponto de partida uma apresentação no âmbito da Expo 98 em Lisboa.
O espectáculo foi então produzido com
instrumentos feitos especialmente para o evento (adufes gigantes – "Adufões") e
aliava uma enorme força cénica a um conceito aberto e culturalmente situado.
Hoje, tendo como matéria prima base
autorias de José Peixoto, de José Salgueiro e ainda algumas adaptações de temas
e ritmos tradicionais, constituiu-se um grupo de nove elementos – cinco percussionistas,
guitarra, teclados, sopros e voz – que têm como objectivo o desenvolvimento de
uma linguagem original que alie a contemporaneidade à força de expressões
rítmicas oriundas do universo da(s) música(s) étnica(s). São mantidos os
"Adufões" e é à volta desta referência sonora, cénica e simbólica que todo o
trabalho musical se desenvolve. É convidada a cantora Basca Maria
Berasarte para dar uma dimensão ibérica ao projecto.
Aquilo a que o Aduf se propõe é conceber
um CD/concerto com uma tal natureza percussiva que garanta a presença telúrica
de uma energia ritual e primordial que intersecta a condição de cada ser
humano. Essa natureza deve ser vestida melodicamente com um critério que
permita um abrangente campo poético e em que se sinta, transversalmente, uma
origem cultural e geográfica que respeite a universalidade da origem e da
expressão do "ser português".
Ficha técnica do espectáculo
José Salgueiro – percussão, composição,
concepção e arranjos
José Peixoto – guitarra, composição e
arranjos
Maria Berasarte – voz
Alexandre Diniz – teclados
Sebastian Scheriff – percussão
Ivo Costa – percussão
João Correia – percussão
João Contente – percussão
David Leão – percussão
O projecto inicial
O espetáculo ADUF foi concebido a partir
de um convite da Expo 98 a
José Salgueiro, tendo como mote um instrumento de percussão de origem árabe – o
adufe – composto por duas peles de cabra cozidas numa estrutura quadrangular e
com uma longa e firmada tradição na música popular portuguesa, em particular
nos cantares femininos da Beira Baixa.
Na concepção do espectáculo original
esteve a procura de ligações entre o passado e o presente, a utilização popular
e tradicional deste instrumento e as suas abordagens mais contemporâneas.
Procurava-se estabelecer pontes intemporais, encontrando ligações e contrastes sonoros.
O moderno e o que ainda sobrevive da
cultura portuguesa no seu estado mais puro conviveram no mesmo palco, numa
simbiose musical entre José Salgueiro (munido de uns adufes redimencionados e
com sonoridades totalmente distintas das tradicionais) e um grupo de adufeiras
da Aldeia de Monsanto.
O projecto actual
Doze anos após a Expo 98, a intenção não poderia
ser a de simplesmente repôr o espectáculo inicial. Há que aceitar o caminho
percorrido pelo tempo.
O novo desafio consiste em, mantendo a
linha orientadora do projecto inicial – pontes, ligações e contrastes entre o
passado e o presente do adufe – explorar novos caminhos, novas sonoridades,
novos diálogos e novas parcerias artísticas.
A mistura de ritmos tradicionais e urbanos de José
Salgueiro, num testemunho de contemporaneidade, sobre composições de José
Peixoto (guitarra clássica) com a participação de Maria Berasarte (voz) natural
do Pais Basco e de Sebastian Schiriff (percussão) da Argentina .
O Instrumento
Inspirado na percussão ritualista asiática
, o adufe sofre, na concepção deste projecto, uma metamorfose nas medidas, no
som e na forma de tocar, sendo rebatizado de Adufão ou Trovão.
Com apenas uma pele de vaca sobre um aro
de cedro e castanho, com medidas de 1.30m x 1.30m e de 1.50m x 1.50m, estes
instrumentos são tocados com paus, transformando o som tímido do adufe original
num som forte, grave e telúrico, transmitindo uma energia fora de comum, como
se de uma tempestade se tratasse.
Com medidas agigantadas, os 4 instrumentos
mutantes (alguns melhorados do projecto original e outros construídos de raiz)
adquirem um novo visual, na forma de um cenário sonoro de 8 metros de comprimento,
tornando-os protagonistas do espetáculo.
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